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MUNDO BOTONISTA
Planeta Dadinho

Por Alysson Cardinali (14/09/2024)

A primeira vez a gente nunca esquece

Sou um adepto do ditado de que bom humor é fundamental — seja nas vitórias e, principalmente, nas derrotas sofridas na vida e nas mesas de botão (não necessariamente nesta ordem). Afinal, rir é o melhor remédio para as nossas mazelas, dores e angústias, uma necessidade vital para mantermos o equilíbrio emocional ao longo de nossos estressantes dias neste planeta cada vez mais insano e inóspito. Pois o tema do nosso papo de hoje é — aleluia! — para cima, divertido e alto astral. Sem rabugice ou reclamação de qualquer espécie. Muito pelo contrário. É um papo, isso sim e com toda certeza, inédito. Lembra da campanha publicitária do Washington Olivetto para a marca Valisere em 1987? Aquela cujo slogan era “o primeiro sutiã a gente nunca esquece”? Pois bem, amigo (a) leitor (a), tal qual o primeiro sutiã, o primeiro beijo, a primeira transa, a primeira bebedeira entre tantas outras experiências preambulares em nossa reles existência, hoje tomo — on the rocks — a liberdade de compartilhar com vocês um momento único em minha singela trajetória de botonista federado: meu primeiro pódio individual em uma etapa da categoria Master do Rio de Janeiro. 

Essa, sim, uma experiência inédita, quiçá única (tomara que não), desde que voltei às mesas no já longínquo ano de 2018, embora tenha me associado à Fefumerj em 2021. Não fui campeão, é verdade, mas consegui um vice-campeonato que para um teimoso e esforçado botonista como eu é a pura perdição. O dia 21 de junho de 2024 e a quarta etapa do Estadual, acreditem, estarão eternamente marcados em minha existência. O desempenho não foi no nível de um Brayner ou de um Paulinho Quartarone, longe disso, mas, “pra mim tá louco de bom”, como cantava Roger Moreira, vocalista do Ultraje a Rigor, na música ‘Terceiro’, aquela que diz que ia ser legal chegar junto na frente, mas iam falar que eu quero ser diferente, então tá bom demais, pelo menos eu não saio da reta... Ao menos não fui terceiro! Fiquei em segundo lugar, após uma final para cardíaco contra Veras, da Liga Fonte.

Não bastassem a tensão (nem tudo foi só alegria) e o cansaço após meus 11 extenuantes duelos até a decisão, encarei um adversário experiente e tarimbado, que tinha a vantagem do empate e fez 1 a 0 logo no início do jogo. Prenúncio de tragédia e vexame logo no gran finale? Felizmente, não. Respirei fundo, contei até dez — ou melhor, até nove, já que a regra é dadinho 9 x 3 — e tratei de buscar o empate: 1 a 1. O segundo tempo foi lá e cá! Veras fez 2 a 1, cheguei ao 2 a 2. Ele foi a 3 a 2, alcancei o 3 a 3. Percebi que o velho amigo bambeou, mas não caiu. O tempo passava no relógio, a adrenalina subia e... pimba! Veras 4 a 3. Mas enquanto tem bambu tem flecha. Não me fiz de rogado, fui ao ataque e... gol! 4 a 4. Veras teve a chance do 5 a 4, mas errou o ataque. Segundos finais, descolei uma última jogada, de frente para a meta, um luxo! Goleiro adiantado, tentei por cobertura, só que o dadinho pegou na quina do arqueiro e foi para fora. Game over!

Missão (quase) cumprida, mas sem choro, nem vela. Muito pelo contrário. O sentimento era um misto de resignação e satisfação, com a certeza de que, enfim, fiz jus ao desempenho que sempre busquei (e seguirei buscando) entre as feras do botonismo do Rio de Janeiro, a meca do dadinho no país. Ficam na memória os bons momentos, as cinco vitórias, os seis empates salvadores e até a única (e dolorida) derrota, bem como os gols decisivos para chegar à inédita final defendendo o manto sagrado e imaculado do São Cristóvão, clube debutante no Estadual deste ano.

Longe de mim querer tirar onda e surfar neste importante e concorrido espaço a mim destinado pelo Mundo Botonista. Apenas celebrar e dividir com vocês um feito nunca antes imaginado na história deste país. Brincadeiras à parte, fica uma reflexão: a sorte, fiel e inseparável companheira de todo botonista, é apenas um pingo no oceano quando se trata de buscar um rendimento acima do próprio limite. É preciso algum talento? Inegavelmente que sim. Só que é necessário ir além. Se concentrar ao máximo, entrar em outra dimensão, em alfa, em êxtase, quase viver uma experiência fora-do-corpo. Exagero? Talvez. Mas foi assim que consegui — palhetada após palhetada, ao longo de 12 inesquecíveis partidas —alcançar um resultado pessoal que me trouxe não só satisfação, mas muitos ensinamentos.  Sem, obviamente, querer me levar muito a sério ou ditar normas e regras. Apenas celebrar o fato de que tudo que desejamos e planejamos pode ser alcançado. Sempre com bom humor e alegria. Afinal, a primeira vez a gente nunca esquece!

A campanha:

1 x 0 Papito (São Cristóvão)

1 x 0 LCO (Grajaú Tênis Clube)

2 x 0 Tebaldi (Fluminense)

5 x 0 Ricardo (Duque de Caxias)

1 x 6 Jonas (River)

2 x 2 Veras (Liga Fonte)

3 x 3 César Muniz (Nova Friburgo)

1 x 1 Minduba (Grajaú Tênis Clube) – 16 avos

1 x 1 Casandré (São Cristóvão) – oitavas de final

3 x 2 Caetano (River) – quartas de final

2 x 2 Leal (Grajaú Tênis Clube) – semifinal 

4 x 4 Veras (Liga Fonte) – final

Total: 12 jogos, com 5 vitórias, 6 empates e 1 derrota, 26 gols marcados e 21 gols sofridos

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Nascido em Nova Friburgo (RJ) em 1971, mas morando há mais de 30 anos na cidade do Rio de Janeiro, o jornalista esportivo Alysson Cardinali, com passagens pelos jornais O Fluminense, Jornal dos Sports, O Dia e Expresso (Infoglobo), revistas Placar e Invicto, além do canal SporTV, é um apaixonado não só pela profissão, mas pelo futebol de botão. Praticante da modalidade dadinho, Alysson é atleta federado, pelo São Cristóvão Futebol e Regatas, na Federação de Futebol de Mesa do Rio de Janeiro (Fefumerj) e, além de disputar as competições oficiais pelo Brasil, pretende divulgar o esporte e angariar cada vez mais praticantes para perpetuar o futebol de botão entre as futuras gerações.

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cardinali@mundobotonista.com.br

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