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Botão_raiz

Por Márcio Bariviera (09/08/2025)

Especial Dia dos Pais:

O torneio que todos ganharam

Man hugging a young person, both smiling widely, outdoors. Other people and a game table are in the background.

Sábado, véspera do Dia dos Pais. O dia parecia diferente. Agosto, porém com um sol de janeiro. Aqueles veranicos que o inverno sempre apresenta, talvez por sentir-se isolado na sua frieza, talvez por querer ser mais dócil, mais parceiro. O jardim da casa do Carlinhos, onde mesas e times de botões tomavam conta do chão, estava repleto de uma nostalgia que só aquele jogo poderia trazer.

Já era tradicional entre aquela turma de amigos, agora adolescentes: toda véspera do Dia dos Pais se realizava um torneio em que pais e filhos jogavam juntos, em duplas. Sem muitas regras, o que valia mesmo eram os encontros. E as partidas eram ao estilo Gulliver, quando se jogava até errar, coisa que eles faziam desde crianças, seguindo um manual que nunca existiu. A diferença é que, neste torneio especial, pai e filho davam um toque cada um, ao invés de um único jogador contra outro.

O torneio era uma ideia simples, mas carregava uma simbologia profunda. Já era a quarta edição. Os outros três foram vencidos pelo Lipe, somente por ele. Lipe era filho de pais separados, o único participante nessa condição. Como sempre jogaram juntos e as amizades transcendiam as mesas de botão, a regra que também nunca existiu permitia que Lipe jogasse sem dupla.

Lipe morava com sua mãe. Após a separação, seu pai mudou-se para uma cidade relativamente distante e isso acabou fazendo com que a relação entre eles esfriasse como a normalidade de um agosto. Nos torneios anteriores, ele enviou cartas ao pai convidando-o para ser seu parceiro, assim como eram antigamente no chão da sala de casa, quando um foi professor e o outro, aluno. Entretanto, a parceria nunca se realizou porque seu pai sempre desfalcou o time.

Entretanto, lembremos, aquele dia foi diferente. O sol de agosto brilhava forte, parecendo ser um sinal de que haveriam emoções até então não programadas, não apenas para Lipe mas para todos que ali estavam. E um carro estacionou em frente à casa do Carlinhos.

Com semblante cansado, Rubens apareceu, surpreendendo a todos, inclusive os seus próprios amigos de longa data, os quais sempre sentiram sua falta, não somente dos torneios, mas dos churrascos, das conversas de boteco, do futebol na TV. Sentiam falta das alegrias e das tristezas do cotidiano adulto que acabou separando um pedaço daquela turma que se encaixava como um time para toda a vida e que ficara desfalcado diante de sua ausência.

Foi um abraço muito forte e caloroso entre pai e filho, que não se viam há vários anos. Um abraço que dissipou a saudade que tanto ardia, lágrimas de tristeza que, enquanto escorriam pelos seus rostos, se transformavam numa espécie de antídoto de alegria, sobrepondo qualquer instabilidade emocional que havia até aquele momento. E todos que ali estavam, emocionados, foram abraçar o seu Rubens.

O torneio foi acontecendo e o entrosamento entre Lipe e Rubens deu uma arrefecida, assim como em suas vidas, algo natural diante das circunstâncias. Mas o importante mesmo é que pai e filho estavam juntos novamente. Desta vez, Carlinhos e seu pai levaram as medalhas, mas foi uma tarde em que todos venceram e, talvez, o principal campeão tenha sido o reencontro. Naquele momento, o futebol de botão deixou de ser um jogo para se tornar uma metáfora da vida. E assim, com o fim de tarde chegando, ficou no ar a certeza de que, no final das contas, o que realmente importa é o amor.

Seu Rubens foi levar Lipe para casa e, dentro do carro, recebeu o convite para pernoitar na casa do filho e passar o Dia dos Pais com ele e a mãe. E foi ali que Rubens soube que sua mãe estava solteira, assim como ele. O pai concordou, desde que sua mãe aceitasse. Lipe sugeriu comer uma pizza gigante, como antigamente. Quem sabe aquele ditado de que tudo acaba em pizza, dessa vez de forma diferente, assim como aquele veranico de agosto, fosse sobreposto por um “tudo recomeça em pizza”. Inclusive uma família.

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Marcio Bariviera

O gaúcho de Rodeio Bonito, Marcio Bariviera é gerente administrativo do União Frederiquense, clube que disputa a Série A2 do Gauchão, além de assinar uma coluna semanal no jornal O Alto Uruguai, de Frederico Westphalen-RS. Rock e futebol de botão são duas paixões desde a infância (e se puder dar palhetadas ouvindo Led Zeppelin fica time completo).

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marcio_bariviera@mundobotonista.com.br
(055) 99988-6612

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