Painel do Mundo
Por Sergio Travassos (27/09/2021)
O coração bate mais rápido e mais forte. Um pequeno arrepio na nuca. Há um certo embaçamento na visão periférica. Mãos e pés ficam gelados. É a ansiedade comum aos que enfrentam algo pela primeira vez. Não importa muito o que seja. O primeiro encontro. O primeiro beijo. O primeiro dia de aula. Àquela primeira entrevista de emprego. Quem não passou por isso, não sabe muito o que é viver, sinceramente.
Conversava com alguns colegas sobre as primeiras vezes de cada um. No nosso caso, a primeira vez em questão, obviamente, é na mesa. Alguns, de tão nervosos, sequer lembram muito sobre esse momento maravilhoso. E, de tão maravilhoso, também é a paixão latente por algo.
Lembro-me bem de todas as primeiras vezes. A primeira vez em que pus os olhos num time de botão, ou do primeiro time que ganhei, o primeiro joguinho para aprender, o primeiro campeonato. No entanto, vou fixar-me na primeira “ tabocada” que levei. Isso mesmo. Pois as dores também nos ensinam.
Estava eu, do alto dos meus 14 ou 15 anos e, após longo período ”peruando” as mesas, alguém teve a ideia de me jogar para uma prova de fogo. E lá fui eu, tímido todo, botando os botões de discos brancos, com frisos negros e uma arte resinada com as cores imitando o uniforme do Criciúma-SC. Time que havia desenhado, a partir do que vi nas mesas e nas revistas Placar (sempre presente em minha vida). O time, gentilmente vendido por um preço que uma criança dos anos 80, poderia pagar, fabricado pelo saudoso Walter, um baixinho e gordinho, muito simpático e gentil.
Pois bem, a primeira partida com o meu time de 1t oficial, calhou de ser com o, até hoje, maior campeão no Estado de Pernambuco: Layette Cardoso. Hoje, ele ainda dá aulas de efetividade e longevidade nas mesas. E é um monstro gigante. Pois bem, naquele longínquo dia, no século passado, para mim, ele era ainda mais corpulento. Um grande urso de camisa vermelha com uma águia no peito, acima do escudo do Benfica. Que time lindo era aquele Benfica. Disco branco com círculo vermelho, um escudo em metal ao centro.
O time, o momento e o professor diante de mim, tudo gigante, incrível, monstruoso. Pois bem, a derrota nunca foi tão facilmente encarada. Claro que iria perder. Mas lá fui eu errando e errando e entrando numa areia movediça. E um gol. E outro e outro. Rapidamente, enchi a minha sacola. Foram sete gols pra conta. No final, como se soubesse que a derrota poderia virar um trauma, ouvi do professor algo parecido com um “não fique triste. Venha jogar mais que você vai aprender”.
Uma verdadeira lição que, por mais que as palavras não tenham sido essas, ipsi littris, ressoa na alma até os dias de hoje. É a lição que me faz, a cada placar adverso, esvaziar a mente e recomeçar os treinamentos com afinco redobrado. Como também é o que me faz admirar, até os dias de hoje, aquele que foi, é, e será sempre, um grande campeão.
O jornalista Sergio Travassos é diretor do Santa Cruz F.C. há doze anos. Com formações também em Educação Física e Marketing, o pernambucano atua há muito em prol do desporto do seu estado, tendo passagens pela FPEFM e CBFM. Travassos é uma das figuras que mais luta para disseminar o futebol de mesa em suas várias modalidades e defende que competições sejam feitas em locais públicos, visando atrair mais visibilidade para o esporte.
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