Painel do Mundo
Por Rafael Pena (29/05/2025)

Por mais que o mundo da 3 toques nos brinde com uma série de assuntos, temas, pessoas, clubes passíveis de citação nessa coluna, confesso que estava ficando apertado com o meu
deadline com o corpo da redação do Mundo Botonista porque eu estava sem saber sobre o que escrever.
Eu participo muito pouco do grupo dos colunistas e certa vez, ao dar uma respirada no serviço do dia a dia, entrei no grupo e me deparei com um debate muito legal, capitaneado pelo Jeferson Carvalho, José Carlos Cavalheiro, Jonnilson Passos e Sergio Travassos sobre o jogo de futebol do dia anterior, entre Internazionale e Barcelona, onde argumentavam sobre tudo. O debate entre eles tratou desde atitudes de jogadores adversários se consolando no final, passando por um lado do clubismo mais ligado ao fanatismo e, na hora que entrei na conversa, de como o futebol de botão nos permitia nos divertir em jogos de times que não são os nossos clubes de coração. No debate do grupo, o Jeferson confidenciou o seu time de coração, mas disse que já foi assistir times de outros rivais pelo simples fato de gostar de futebol como um fenômeno maior, sem que isso pudesse pôr em prova a sua paixão pelo seu time. Confesso que eu, como cruzeirense, não conseguiria ter esse altruísmo todo em relação ao time do outro lado da Lagoa da Pampulha, mas isso não vem ao caso agora. Na conversa, o Jeferson arrematou dizendo que, pelo fato de amarmos o futebol, a gente conseguiria vibrar com o futebol de verdade pelas cores, cultura, as cidades, enfim, por tudo que envolve o fenômeno futebol, sem que isso nos obrigue a odiar o oponente que torce diferente. Essa última reflexão foi que me deu o estalo sobre o que escrever nessa coluna.
Na verdade, vou tentar trazer para um exemplo prático, mais vivo que nunca, graças a Deus, que o que o Jeferson disse é perfeitamente possível no mundo do futebol de mesa, especialmente no universo da 3 Toques. Quem nunca ouviu falar de Sérgio Burnier e até mesmo quem já o conhece e já teve a oportunidade de ter um dedo de prosa com esse sujeito vai entender bem como esse personagem marcante da história da modalidade se afina com o que Jeferson disse no grupo. É preciso entender quem é Sérgio Burnier, também conhecido como Baleia Branca. Em Belo Horizonte, costumamos batizar os nossos times de futebol de mesa e, assim que batizados, somos assim conhecidos. A princípio, vendo o time do Santos sobre a mesa, com Pelé, Urubatão, Doval, Mengálvio, Coutinho, Cabeção e companhia limitada, o time batizado como Baleia Branca, em alusão às cores e mascote do time do glorioso alvinegro praiano, a conclusão lógica seria qual? Ora, por óbvio, o Burnier é santista. Ledo engano... Burnier é torcedor fanático do Corinthians! Torcedor do Timão desde que o mundo gira. Burnier aponta até que, antes mesmo de ter saído do país em exílio, chegou a bater bola com Rivellino na base do Corinthians.

Baleia Branca, o lendário time de Sérgio Burnier
Uai, diria o mineirinho aqui na primeira vez que conversou com o Burnier, me explica essa “proeza”, por gentileza. Se não tiver CID de loucura, qual seria a razão de um corinthiano da gema ter um time de um rival nas mesas? Nessas coisas sem explicação, a princípio, que a vida nos brinda, o botonista Burnier me explicou que na era do Santos de Pelé uma das suas vítimas mais castigadas eram as redes dos goleiros corinthianos. Não vou parar aqui para pesquisar o histórico, mas segundo o Baleia Branca, era só ter Santos x Corinthians que só se ouvia gol do lado de lá e nessa época foram raras as vezes de triunfo do Timão. Segundo Burnier, de tanto ouvir só o lado de lá comemorar gol e ver o esquadrão praiano ser temido dentro e fora do Brasil, ele quis também experimentar o gosto daquele esquadrão mortal. Batizou o seu time com os nomes dos jogadores que te castigavam a alma de torcedor de futebol, mas como botonista te deram grandes alegrias e ainda dão nas mesas do Brasil afora.
A alma corinthiana para o futebol de campo, quando segura uma palheta, consegue fazer com que o botonista tenha prazer em ver o time que lhe castigou dar prazer com gols que são brandidos em homenagem ao escrete santista. A única exceção no seu time de futebol de mesa é o goleiro Cabeção, que foi ídolo de Burnier no Corinthians. Os outros 10 da linha são todos aqueles que castigaram as metas do goleiro corinthiano de verdade. O Cabeção de Burnier é goleiro do Baleia. Se alguém se perguntar se o fenômeno do futebol de campo permite a gente gostar de ver o “rival” em campo e não achar resposta, recorra ao caso do corinthiano Sérgio Burnier que se diverte às pampas com seu time do Santos. Aliás, Santos não., do Baleia Branca.
Se no futebol de campo existe pouca explicação para o caso, para o futebol de mesa, onde refletimos o mundo lúdico, esportista e terapêutico em grande parte das vezes, a resposta é só uma: só pondo um time na mesa e sendo feliz. Sérgio Burnier é um dos botonistas mais longevos da regra 3 toques, um dos fundadores de um dos clubes mais históricos da regra, que é o Grêmio Mineiro Futebol de Mesa, um dos grandes incentivadores da modalidade e “pai” de grande parte da turma que joga no Caraça Futebol de Mesa na cidade de Santa Bárbara/MG. Quem já ouviu um grito de gol de URUBATÃO com uma voz rouca e alta, ou de CABEÇÃO, a cada defesa do seu arqueiro, jura que o Baleia Branca é torcedor do Santos. Quem o conhece sabe que ele é torcedor fanático do Corinthians no futebol no gramado. Nas mesas de compensado, ele é BALEIA BRANCA, que não se confunde com o Santos.
Salve, salve mestre Burnier.
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Mineiro de Belzonte (Belo Horizonte para quem é de fora) Rafa Pena também é advogado, fotógrafo, pai, filho, cruzeirense de arquibancada (mas que se dá bem até com os atleticanos tanto é que se casou com uma), escoteiro, zoeiro (gosta de uma piada e uma troça), videomaker, fusqueiro e Kombeiro, participa de canais do YouTube que falam de futebol e do Cruzeiro, fã de Chaves e Star Wars, e mais um monte de coisa que ajuda a tornar a vida mais prazerosa. Joga botão desde o “estrelão” e por isso, quando conheceu a Regra 3 toques em dezembro de 2008 e teve que batizar seu time já lançou “Estrelão da Madrugada”, homenagem à sua origem e ao Seu Madruga. Procura jogar, se divertir e manter a história e a chama do botonismo aonde passa. Mais que isso, só chamando para prosear (se tiver café e pão de queijo, melhor ainda).
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