Copa do Brasil 2022:

A apoteose de um gênio do nosso esporte.

O paulista Quinho Zuccato conquista o título, iguala uma supremacia poucas vezes vista no cenário do futebol de mesa 12 toques e firma sua posição como um ídolo dentro e fora das mesas.

A 17ª edição da Copa do Brasil disputada no último final de semana (10 e 11 de setembro) na cidade de Londrina-PR (400 Km de Curitiba) foi um marco para a modalidade 12 toques por uma série de fatores que poderíamos elencar a seguir, como a estrutura impressionante utilizada antes apenas em Campeonatos Brasileiros com 48 mesas sendo utilizadas simultaneamente para permitir que 96 botonistas (entre adultos e másters) pudessem jogar em tempo integral o torneio. Só isto já faria desta edição a maior de todos os tempos.

Muito elogiada pela grande maioria dos atletas, a locação do evento foi, uma vez mais, o Hotel Londri Star Meetings & Conventions, que já sediara em 2018 a 30ª edição do Campeonato Brasileiro e que, não apenas acolheu confortavelmente os competidores, mas também foi sede da arena dos jogos em seu salão de convenções climatizado - o que é, via de regra, condição indispensável numa competição realizada na quente região do norte do estado do Paraná.

Se quisermos ir além, ao enumerar aspectos bem-sucedidos do campeonato, podemos citar ainda as bolinhas que estavam muito boas, as mesas que estavam todas bem niveladas, limpas e iluminadas - com destaque para a mesa-extra (arena de transmissão) fabricada pela P.R.P Botões - que chamou atenção de todos pelo acabamento de luxo nos alambrados de alumínio e por sua textura especial na superfície de jogo - que fazia com que os botões deslizassem até mesmo sem serem "flanelados".

Tudo, de maneira geral transcorreu dentro do planejado e de acordo com o que se espera de um evento dessa envergadura. Nem mesmo alguns imprevistos com a impressora (que precisou ser substituída por duas vezes) tanto na tarde de sábado quando na manhã de domingo, foram capazes de manchar o esmero e a dedicação com que o evento foi conduzido novamente pela competente liderança do diretor técnico nomeado pela Federação Paranaense, Paulo César Pereira.     

A competição

O evento esportivo corou dois grandes craques já consagrados e multi-campeões do nosso esporte, mas que ainda não tinham vencido uma Copa do Brasil. As conquistas inéditas de Quinho Zuccato (na categoria principal) e Carlos Dalla Stella (entre os Másters) foram atrativos especiais para a audiência e reuniu uma legião de "botonautas" torcendo para que ambos fizessem história e celebrassem pela primeira vez o título diante das lentes ao vivo no domingo (11/09).

O sistema de disputa da Copa do Brasil foi, como de costume, o de pontos corridos. Os atletas foram organizados previamente por sorteio dirigido em grupos (8 do principal e 4 no máster) compostos por 8 botonistas cada. Após os confrontos internos em cada um destes grupos, apenas os 16 melhores em cada categoria permaneceriam na briga pelo título da 1ª divisão (série ouro). Ao final das respectivas fases (1ª e 2ª) o atleta que somasse o maior número de pontos em confrontos diretos contra todos os adversários diretamente envolvidos em seus grupos sagrar-se-ia campeão.

Emoção entre os Másters

O paranaense Carlos Dalla Stella (Clube D. Pedro II), bi-campeão brasileiro 2012 e 2013, ficou com o título da categoria máster (atletas acima de 48 anos) numa disputa muito acirrada com o paulista Anoel (S.C. Corinthians Paulista). Ambos chegaram à última rodada da competição com chances de título num confronto direto, bastando ao curitibano um empate para ficar com o troféu. Na mesa, muito nervosismo dos dois contendores e o placar seguiu indefinido boa parte do primeiro tempo. Dalla Stella, porém, encontrou melhores finalizações no início da 2ª etapa e abriu vantagem para uma vitória tranquila sobre seu oponente por 7x2, o que lhe valeu o título inédito. 

O pódio Master (da esquerda para direita em pé): 8º Rodolf Cotting (SP), 7º Moacir Henze (RJ), 6º Manoel Moura (CE), 5º Bryant (SP). (agachados): 3º Teruel (SP), 2º Anoel (SP), Campeão - Dalla Stella (PR) e 4º Eder Sérgio (PE)

Quinho absoluto na categoria principal

Após a espetacular conquista de seu quinto Campeonato Brasileiro, dois meses atrás em São Paulo, era natural que Quinho Zuccato fosse visto como favorito ao título da Copa do Brasil 2022 por aqueles que acompanham o organograma do futebol de mesa 12 toques. O próprio Mundo Botonista adiantara isso num programa especial que repercutia com os fãs o sorteio de formação dos grupos, pouco antes do evento.

Em contrapartida, uma dúvida pairava em torno deste favoritismo, a despeito da inquestionável fase técnica do craque do Clube XV de Agosto: o fato de ele jamais ter conquistado a Copa do Brasil antes. A "pulga atrás da orelha" se dava, sobretudo, pela fórmula de disputa da competição que, diferentemente do que acontece nos Campeonatos Brasileiros, não tem confrontos de "mata-mata" nem uma fase de jogos eliminatórios como uma final. Quem esperava, porém, que isso pudesse representar uma dificuldade extra para o craque nascido em Socorro-SP, enganou-se profundamente.

O que se viu neste final de semana histórico em Londrina foi uma continuidade da exuberância técnica e tática de um dos melhores botonistas da história na modalidade 12 toques. Quinho Zuccato venceu todos os seus principais adversários na disputa pelo título, mantendo-os a uma boa distância na tabela de classificação ao longo de todo o certame - algo que lhe permitiu chegar à antepenúltima rodada precisando de apenas mais um único ponto para chegar ao título.

E foi exatamente o que aconteceu. o empate em 6x6 contra Leonardo Gonçalves (Londrina E.C.) na arena principal pela 13ª rodada da série ouro sacramentou a conquista de um título que Quinho Zuccato não havia vencido ainda e evidenciou, um pouco mais, a grandeza de um gênio do nosso esporte, vivendo talvez o melhor momento de toda sua trajetória no futebol de mesa. Antes dele, somente Roberto de Lara Rodrigues (Robertinho) conseguira unificar os títulos da Copa do Brasil e do Campeonato Brasileiro numa mesma temporada. O feito histórico, concretizado com uma campanha espetacular com 88% de aproveitamento, somou 19 vitórias, 1 empate e 2 derrotas com uma espetacular média de 7 gols por jogo.

O pódio da categoria principal (da esquerda para direita em pé): 8º Picolino (SP), 5º Victor Heremann (SP), campeão Quinho Zuccato (SP), 4º Jefferson Genta (SP), 2º Denis Gradowski (PR). (Agachados): 7º Léo Gonçalves (PR), 6º Pabinho (RJ) e 3º Ednilson Gaffo (SP)

Um evento para além da arena de jogo

Do ponto de vista da representatividade esportiva, a Copa do Brasil 2022 cumpriu com folgas o seu papel e deve ficar marcada como um divisor de águas na história da competição tendo atraído atletas de 12 estados  federados (SP, PR, PE, RJ, SC, GO, MG, RS, CE, AL, PB e DF), algo que nunca havia acontecido antes. Além disso, a maioria dos botonistas de ponta do cenário nacional marcaram presença no Paraná, com destaque absoluto para atletas da maior e mais poderosa entidade estadual de futebol de mesa do Brasil - a Federação Paulista - que levou ao evento o que tinha de melhor,  como  o atual campeão brasileiro Quinho Zuccato, Bruno Varolli, Victor Heremann e Ednilson Gaffo (ambos do São Paulo F.C.), Anoel e Elvis Teruel (ambos do S.C. Corinthians Paulista) além da super-estrela Jefferson Genta (S.E. Palmeiras), só para citar alguns.

Outro marco do final de semana foi a transmissão do evento via streaming pelos canais Mundo Botonista no Youtube e no Facebook. Foi a primeira vez na história que uma  Copa do Brasil foi transmitida ao vivo, o que agitou toda a comunidade do futebol de mesa - não apenas os envolvidos diretamente na disputa, mas também os clubes, departamentos, federações de várias regiões e estados do país que aproveitaram para acompanhar e torcer pelos botonistas que os representavam e por seus atletas favoritos. A cobertura, dividida em 3 blocos de programação, estendeu-se da manhã do sábado (10/09) até o início da tarde do domingo e já ultrapassava 6 mil visualizações ao final do evento, reforçando a tendência observada nos últimos campeonatos nacionais - a de que o futebol de mesa tem conseguido, aos poucos, ultrapassar as paredes dos ginásios e se viabilizado também como um esporte para a mídia web.

Assim como qualquer outra modalidade esportiva, nosso esporte tem atletas excepcionais - bons demais naquilo que fazem ao competir. A estes, chamamos de "craques". Eles nos inspiram, nos emocionam e nos ensinam com sua expertise e excelência. Contudo, no momento em que passamos a ter uma mídia especializada voltada para a cobertura do nosso esporte, outros atributos, que vão muito além das mesas e arenas de jogo, nos dão a dimensão do que vem a ser não um craque apenas, mas um ídolo.

É neste espectro tão novo e, nitidamente ainda em construção para o nosso esporte, que Quinho Zuccato se mostra especialmente "pronto" para absorver o peso e ocupar o espaço que lhe é irrefutavelmente de direito - o posto de ídolo do futebol de mesa. A própria compreensão da importância decisiva que sua presença tem para chancelar e agregar valor a um evento como a 17ª Copa do Brasil - Londrina 2022 é um bom exemplo disso. Ser ídolo, mais do que ser um craque, tem a ver também com as escolhas e os exemplos ensejados fora das mesas. Isso vai além das vitórias, dos gols e dos troféus. Ser ídolo é dignificar o que se faz com sua postura e respeito ao esporte. O título não poderia parar em melhores mãos. Sorte do futebol de mesa ter um Quinho Zuccato para celebrar.