Painel do Mundo
Por Giovanni Nobile (23/07/2023)
Liguei o Fusca amarelo Texas 1973 e fui até a livraria, que fica algumas quadras ao norte do apartamento onde moro. Fui com minha filha, a Fifi, até a sorveteria, que fica entre um parquinho e uma pequena livraria de rua. Um combo da resistência: um parquinho num mundo de games. E uma sorveteria e uma livraria na rua e não em um shopping. Nada contra shopping. Nada contra game, inclusive. Mas o cultivo da vida analógica - ainda que estas palavras cheguem até você pelo mundo digital - é um momento de fôlego.
Estacionei o Fusca e fomos até a sorveteria. Olhando pela vitrine, Fifi olhava indecisa, querendo um sabor a cada instante, tudo de uma vez.
- Pistache! Não, não. Amora! Não, Chocolate. Chocolate com biscoito. E de Iogurte. Tem de creme? Quero com casquinha...
Compramos uma casquinha com dois sabores desses que ela acabou definindo de repente. Pedi um café. O sorvete derretia com os minutos escorrendo pela tarde e a baunilha do sorvete de creme chegava até os cotovelos, mostrando que já estávamos ali por quase meia hora.
Paguei. Lavamos as mãos. Fomos ao parquinho. Primeiro, o balanço. Depois, o escorregador. Antes, para se chegar nele, a escadinha levava a uma pequena casa de madeira de onde o escorregador partia. Então, subi os degraus junto, sentei-me dentro da casinha de madeira enquanto Fifi subia e escorregava, subia e escorregava. E o ciclo se repetiu algumas dezenas de vezes. Até que propus irmos à livraria. Então, saímos dali, atravessamos pela frente da sorveteria novamente e chegamos à livraria, onde leitura e amores circulam pelas prateleiras e palavras. Ela é pequena, do espaço de dois cômodos. Mas recheada de histórias, romances, contos, poesias e crônicas do cotidiano que folheiam os livros dos mais famosos aos de escritores independentes.
Sou um desses. Numa outra tarde de sábado antes desta, lancei meu primeiro livro. Escrevi para minha filha. O livro se chama "A galeria de arte da Fifi". Foi editado pela Casa Kids e conta com ilustrações magníficas da artista londrinense Nani Vasques. Foi uma tarde muito alegre, rodeada de crianças e amigos.
“A galeria de arte da Fifi” é uma lúdica viagem pela imaginação das crianças. A obra é um delicioso passeio pela criatividade infantil. Fifi, a personagem central, guia os leitores – acompanhados dos bonecos e bichinhos de pelúcia de Fifi, que ganham vida na obra – em um passeio que começa no sofá de casa e segue pelos corredores dos sonhos e fantasias das crianças.
É possível desvendar caminhos em que se encontram brincadeiras, histórias em quadrinhos, personagens de filmes e tirinhas. Tudo isso compõe a exposição. O livro é também um convite à conexão entre adultos e crianças, já que além da contação de histórias, ele ainda proporciona um momento interativo, já que Fifi convida a todos para também reproduzirem suas expressões artísticas em páginas emolduradas ao final do livro. “A galeria de arte da Fifi” se torna, então uma galeria que recebe, com exclusividade, as artes de cada criança que tem o livro em suas mãos.
Vendo tudo isso: a sorveteria, o parquinho, a livraria de rua, o livro infantil recém-lançado e exposto na vitrine... Enfim, pensei em como o futebol de botão faz parte de todo esse ambiente. Essa coisa de ser algo que está aí, cheio de vida, com tanta gente palhetando e comemorando seus gols num movimento de resistência também e com um potencial tão elevado de conectar crianças e adultos em partidas que alegram tardes de sábado.
Minha mesa de brinquedo está guardada faz um tempo. Hoje, Fifi tem apenas 4 anos. Já brincou de "jogo de gol", que é como ela chama nosso futebol de botão. Mas ainda sem nenhuma regra. Só brincando de palhetar uns chutes a gol. Daqui uns anos, certamente faremos uns campeonatos de futebol de botão com seus amiguinhos. Quem sabe não levo a mesa até a sorveteria. Um momento que misture futebol de botão com parquinho, uma casquinha com dois sabores de sorvete e arrematando com uma passada na livraria para contar mais alguma história. E inspirar tantas outras. Uma prova de que devemos sempre amar mais, ler mais e circular mais pelos espaços da cidade para curtir os momentos como esses.
Um dia ainda escrevo um livro sobre futebol de botão.
Giovanni Nobile é jornalista e fundador do Águia Branca Futebol de Mesa (time que nasceu nas quadras de futsal em Santo Antônio da Platina, no Paraná, fez um jogo em 1997, ganhou, e se orgulha de ser o time há mais tempo invicto no mundo - tudo bem que nunca mais jogou, mas essa é outra história). Seu melhor resultado nas mesas foi um vice-campeonato de etapa na série extra da Liga União, cuja medalhinha tem guardada até hoje. Há mais de 10 anos, vive em Brasília. Por aqui, traz crônicas aos domingos sobre o nosso Mundo Botonista.
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