Batida na porta e o Joca vai abrir:
– Pois não? – diz ele.
– Não está me reconhecendo, Joca? Prazer, João Carlos – responde o homem no lado de fora.
– João Carlos? Mesmo nome que o meu! Seu rosto me parece familiar. Peraí? Você... você... sou eu?
– Sim, só que no futuro.
– Como assim? Ninguém vem do futuro, exceto nos filmes de ficção.
– Para ver como você é privilegiado.
– Mas eu sou um garoto de apenas 14 anos!
– E eu tenho 34, voltei 20 “primaveras” para te visitar.
– Não tô entendendo. Que loucura é essa?
– Estou te dando a chance de evitar um grave erro que você cometerá amanhã.
– Grave erro?
– Isso mesmo. Amanhã não é o dia final do campeonato regional de botão?
– Sim. Inclusive estava treinando neste exato momento.
– Então... Você terá a chance de passar a perna no seu adversário da final.
– Mas como que você sabe que eu estarei na final?
– Esqueceu que eu vim do futuro?
– Ah, sim, verdade.
– Continuando: como não terá árbitro, haverá um momento, quase no final do jogo, em que você cometerá um pênalti, mas ele não irá perceber. O jogo estará empatado. Você terá a chance de “passar a perna” nele e segurar o empate. Não faça isso.
– Já entendi. Eu, no caso você, fez isso e veio do futuro para corrigir esse erro.
– Bingo! Isso me corrói até hoje.
– Certo, deixa comigo. Se isso realmente acontecer, prometo fazer diferente de você.
– Promete mesmo?
– Prometo!
– Que estranho tudo isso. E como saberei que tudo isso é real?
– Deixe o coração te guiar. Parecerá um sonho. Amanhã você não lembrará de nada disso. Apenas não esqueça de uma coisa: seja honesto!
No dia seguinte, depois de passar pelas oitavas, quartas e semifinal, tudo aquilo se concretizou. Joca, na grande final, imaginando uma espécie de dèjá vu, teve a oportunidade de levar vantagem, mas evitou. Acabou vencendo com um gol na prorrogação e se tornou campeão regional.
Ao chegar em casa, ostentando um bonito troféu e uma medalha no peito, sua mãe o parabenizou e entregou uma carta que estava endereçada a ele, sem remetente. Ao abrir, apenas uma frase: “Parabéns, eu sabia que você seria campeão. Assinado: um fã anônimo”.
Suspirou curioso e feliz, dobrou a carta e disse à mãe que a guardaria junto com os prêmios do torneio. Joca já tinha um fã, mesmo sem saber quem era ele...