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MUNDO BOTONISTA

Por José Carlos Cavalheiro (18/09/2024)

Muitos dedos na ferida, poucas mãos para ajudar

Começo essa crônica me intrometendo no campo do comportamento ético, algo que seria mais adequado aos textos do Gustavo Martorelli que, com muita propriedade, assina a coluna "Jogo de Cavalheiros", da qual eu deveria participar apenas com meu sobrenome. Peço permisssão ao colega e disserto sobre um tema que me incomoda muito no nosso e em outros meios: a eterna insatisfação e a falta de reconhecimento com quem, na minha opinião, o merece.

Obviamente, a inconformidade é a alavanca para as melhorias. Sem ela, talvez a humanidade ainda estivesse em seu estado de caçadores-coletores, nossa expectativa de vida seria de apenas de 25 anos e pior; não teríamos inventado o futebol de mesa. A observação do que acontece no nosso entorno, nos leva a identificar problemas e os expor — coisa que nem todos têm coragem de fazer — para que algo se transforme para melhor.

O direito à liberdade de expressão é algo que está garantido constitucionalmente na grande maioria dos países.  Infelizmente, podemos observar que aqueles que mais reivindicam essa garantia são, usualmente, aqueles que menos a prezam. A liberdade de dizer o que se pensa implica em responsabilidades legais e éticas. Não se pode criticar o que acreditamos estar errado, mal feito, desorganizado, caluniando, difamando (todos crimes contra a honra) sob pena de estarmos expostos a processos judiciais. Aqueles que têm preocupações éticas, dificilmente incorrem nesses comportamentos, e quando criticam o fazem abertamente e não pelos caminhos tortuosos da fofoca.

As pessoas que assumem responsabilidades de organização no futebol de mesa — que infelizmente é visto por alguns como jogo, diversão ou espaço de reunião social e não como esporte — são verdadeiros abnegados. Trabalham, na maioria dos casos, laboriosamente para que as entidades que representam funcionem da maneira mais eficiente possível, ou seja, para que os campeonatos aconteçam dentro do cronograma previsto, para que as premiações sejam as mais adequadas, para que a estrutura da organização seja transparente, para que os códigos disciplinares sejam cumpridos e para que as contas fechem. Como todos sabem, somos amadores, sejamos atletas ou dirigentes, condição nos leva a cometer equívocos e, nem sempre o que estava planejado, acontece da maneira esperada. Muitos vão gritar que temos de profissionalizar o esporte, mas de onde viria a fonte de ingressos para bancar os especialistas em cada uma das áreas que necessitam melhoras no nosso esporte underground?

Infelizmente, a cultura nacional é a da não confrontação direta.  Somos assim porque nossa sociedade nos pede. Poucos suportam a sinceridade alheia quando esta aponta na nossa direção. É lugar comum entre os estrangeiros que nós brasileiros não sabemos aceitar um não ou negar diretamente algo. Seguindo a corrente, muitos botonistas têm um comportamento na frente do dirigente criticado e outro pelas sua costas, com a conveniente proteção do anonimato.

Temos muitos dedos colocados sobre as feridas e poucas mãos para ajudar. Normalmente, quem critica se acomoda nessa posição e, é raro que se ofereça para ajudar. Obviamente, é muito mais cômodo ser pedra do que vidraça. Deixo aqui, então, minha homenagem e o meu respeito a todos os dirigentes do futebol mesa — mesmo àqueles de quem discordo — pois seu trabalho é altruísta, árduo e inglório. Por fim, convoco a todos da grande comunidade do futebol de mesa a um autoexame: sua contribuição para o esporte é do tamanho das suas críticas àqueles que se dispuseram a trabalhar para a manutenção e desenvolvimento da modalidade?

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Formado em Agronomia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, José Carlos Marques Cavalheiro, nasceu na capital carioca no ano de 1962. Foi atleta de futebol de mesa na regra12 Toques de 1998 a 2005, quando foi viver em diferentes lugares: São Paulo, Paris, Jundiaí e Bogotá, onde atualmente reside. É o responsável pelo site da FEFUMERJ desde dezembro de 2004. Atualmente exerce o cargo de Diretor de Comunicação da entidade.

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