Painel do Mundo
Por Paulo Roberto Souza (13/09/2021)
"Já está chegando a hora de ir,
venho aqui me despedir e dizer, em qualquer lugar por onde eu andar, vou lembrar de você.
Só me resta agora dizer adeus e depois o meu caminho seguir,
o meu coração aqui vou deixar, não ligue se acaso eu chorar, mas agora adeus”.
Quando pensei no tema desta coluna, a primeira canção que me veio à mente foi essa bela canção do disco do Rei Roberto Carlos de 1974, coincidentemente, o ano em que eu nasci, que retrata muito bem a história que vou contar para vocês sobre uma despedida que deixará, no peito de antigos e novos botonistas da modalidade 3 toques, muitas saudades. Com certeza, o Estádio Jornalista Felippe Drummond, mais conhecido em todo Brasil como Mineirinho, que foi palco de milhares de partidas da regra 3 toques, de grandes competições nacionais e estaduais e que era a casa do nosso querido Grêmio Mineiro, estará sempre presente na história da modalidade, porém, como disse uma vez o poeta Renato Russo: “Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar que tudo era pra sempre, sem saber que o pra sempre sempre acaba”.
Infelizmente, chegou ao fim uma parceria de 35 anos entre Mineirinho e Grêmio Mineiro e, consequentemente, com a modalidade 3 toques, pois o espaço passará por um processo de privatização. Conversando com o querido amigo Gustavo “Heavy”, veterano botonista da equipe, ele relatou que o Grêmio passou a utilizar o espaço do Mineirinho em 1986, em uma sala pequena, mas conforme a parceria se fortalecia foram obtendo mais espaço, até chegar atualmente a uma sala que comportava 20 mesas da modalidade 3 toques. Informou que o governo providenciou um espaço de uma escola desativada para que o futebol de mesa e federações de outras modalidades possam compartilhar, mas, segundo Heavy, o Grêmio vem trabalhando um projeto de parceria com um clube de Belo Horizonte que, caso se concretize, será revelado em breve.
O último campeonato realizado no espaço foi no dia 04/09/2021 e iniciou-se o processo de desmontagem das mesas que serão retiradas do Mineirinho. Mas, como me disse Gustavo, “o Grêmio Mineiro é imortal”, tendo passado por vários espaços antes do Ginásio Mineirinho, inclusive um galpão perto do Ribeirão Arruda, que quando enchia, alagava todo o espaço e, mesmo diante das adversidades, o amor dos botonistas pelo Grêmio só aumenta.
Mesmo os botonistas que não são integrantes da Equipe do Grêmio Mineiro têm boas lembranças do Mineirinho, como é o caso de Marcus Motta, que fala de uma de suas primeiras lembranças ligadas ao Ginásio, o primeiro campeonato externo que disputou em 1998, o Campeonato Mineiro de juniores, que existia na época, um campeonato de duplas que Marcus jogou com Falcometa e Leandro, em revezamento. Nesta disputa, Marcus tinha 13 anos de idade e pouco tempo de regra. Viajar para jogar, para um adolescente, foi uma experiência fantástica, em um local icônico do Futebol de Mesa, na modalidade 3 toques, deixando muitas lembranças boas.
O Mineirinho também tem suas histórias engraçadas, o botonista Henrique Madeira, do Vasco da Gama, conta que muitos botonistas ficavam no alojamento que ficava embaixo da arquibancada. Após as competições, a rapaziada se reunia para uma resenha regada a uma cervejinha e tira gosto, sendo um dos points para esse happy hour, o bar Mineiríssimo. Mas havia outros nas proximidades, e foi em um deles que Madeira diz que aconteceu um episódio bem engraçado, no qual um dos botonistas se animou demais tomando vinho e no retorno para o alojamento sucumbiu à “força etílica” do suco de uva que tomou em excesso. Todos pensavam: “como vamos levá-lo de volta ao alojamento?” Mas, de repente, do nada, em um daqueles acasos do destino, aparece um carrinho de supermercado, nossos boêmios botonistas, então, colocaram o companheiro “apagado” dentro e transportaram a “carga” de volta ao Mineirinho, deixando o carrinho estacionado na frente da porta do alojamento do botonista que se encontrava vencido pelo vinho. O amigo Henrique Madeira até me contou o milagre e o nome do “santo”, mas vou deixar isso em segredo.
Essa despedida não é o fim de uma história, mas sim um novo capítulo que será escrito, pois o passado nos traz belas lembranças e lições, mas o futuro nos reserva uma página a ser escrita com novas memórias e nos ensinará outras lições, pois como cantou Milton Nascimento:
“Mas renova-se a esperança, nova aurora a cada dia
e há que se cuidar do broto, pra que a vida nos dê flor e fruto".”'
Paulo Roberto de Freitas Souza é pedagogo e botonista do estado do Amazonas - atualmente representando o Manaus FC - e um dos administradores do Fórum Mundo Botonista no Whatsapp. O manauara é praticante das modalidades 12 Toques, 3 Toques e Dadinho, tendo sido inclusive dirigente na Federação Amazonense de Futebol de Mesa. Atualmente, Paulo ocupa uma função estratégica como diretor de Comunicação da Confederação Brasileira da modalidade 3 toques.
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