Painel do Mundo
Por Giovanni Nobile (27/04/2024)
A atmosfera é a camada gasosa que envolve o planeta Terra. Em um sentido mais figurado, significa o clima, o ambiente, a vibração de um determinado lugar. A mesa de futebol de botão sempre esteve envolta em uma atmosfera lúdica, para mim. Mesmo quando o jogo era pra valer. E se o nosso mundo botonista tem uma atmosfera própria, no meu imaginário ela não possui nem forma nem volume definidos. Essa atmosfera botonística adquire a forma do espaço que encontra à disposição.
Meu time de botão era uma coisa inventada. Ele era a maior realidade que existia. E eu nunca quis que aquelas tardes de sábado de jogos de botão espalhados pelo chão de taco passassem. Hoje, as pausas deveriam ser mais valorizadas. Elas são mais raras. O futebol de botão driblava o tempo. Quem via de fora, via um tempo parado. De dentro, a cada palhetada, a intensidade da partida eletrizante se fazia em movimentos. Eu lembro, a pia da cozinha tinha uma cortina em vez de uma porta. Lá estavam as panelas, mas também as caixas de fósforo. Na verdade, era ali a concentração dos maiores goleiros dos meus times de futebol de botão. As caixinhas... goleiros ficavam guardados atrás dos potes coloridos. Eu, com meus botões, pensei que aquelas tardes de sábado seriam eternas. Era uma alucinação de que o tempo estava estacionado.
No chão do quarto, na mesa da sala, no fundo do quintal.
Acontece que a atmosfera da competição às vezes sufoca. Uma jogada aqui, uma situação ali. E, de repente, o ar lúdico se dissipa. Pode acontecer.
Eu tento evitar que isso aconteça. No caminho pra um torneio, boto um fone e ligo meu Spotify em cânticos de torcida nos estádios. Minha playlist preferida para isso é a do Boca Juniors. Já ouviram? Que atmosfera! O caminho de casa até o clube vai se tornando o trecho do CT até o estádio. Os botões já chegam no clima, concentrados. Hora de polir, aquecer. Um a um, vendo quem está bem focado para a partida. É diferente. O clima faz toda a diferença.
Que bom quando o chão do quarto, a mesa da sala e o fundo do quintal ditavam o tom. Quem dera se toda essa atmosfera do fundo de quintal permanecesse, sempre. Assim como na música do próprio Fundo de Quintal diz:
"Teu choro já não toca meu bandolim
Diz que minha voz sufoca teu violão
Afrouxaram-se as cordas e assim desafina
Que pobre das rimas da nossa canção
Hoje somos folha morta
Metais em surdina
Fechada a cortina Vazio o salão
Se os duetos não se encontram mais
E os solos perderam a emoção
Se acabou o gás
Pra cantar o mais simples refrão
Se a gente nota
Que uma só nota
Já nos esgota
O show perde a razão
Mas iremos achar o tom
Um acorde com lindo som
E fazer com que fique bom
Outra vez o nosso cantar
E a gente vai ser feliz
Olha nós outra vez no ar
O show tem que continuar..."
Giovanni Nobile é jornalista e fundador do Águia Branca Futebol de Mesa (time que nasceu nas quadras de futsal em Santo Antônio da Platina, no Paraná, fez um jogo em 1997, ganhou, e se orgulha de ser o time há mais tempo invicto no mundo - tudo bem que nunca mais jogou, mas essa é outra história). Seu melhor resultado nas mesas foi um vice-campeonato de etapa na série extra da Liga União, cuja medalhinha tem guardada até hoje. Há mais de 10 anos, vive em Brasília. Por aqui, traz crônicas aos domingos sobre o nosso Mundo Botonista.
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