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MUNDO BOTONISTA

Por José Carlos Cavalheiro (08/09/2021)

Gilda.  


O Botafogo, a exemplo do meu Vasco da Gama, vive uma fase de vacas magras, tão magras que alguns acham que nem para o abatedouro servem mais. Entretanto, o alvinegro carioca tem uma história de glórias e a alcunha de estrela solitária não condiz com a legião de craques que passaram pelo clube. Um time de botão dos sonhos certamente teria alguns jogadores como Manga, Carlos Alberto, Nilton Santos, Marinho Chagas, Didi, Gerson, Mendonça, Quarentinha, Jairzinho, Amarildo, Garrincha, Zagallo e muitos outros.


Um craque merece um capítulo à parte, Heleno de Freitas, que talvez seja o jogador que tenha mais, ao mesmo tempo, associado a genialidade ao temperamento explosivo. Mario Balotelli, perto dele, seria um santo. O também brasileiro e problemático Edmundo seria como um menino que ajuda o padre durante a missa. O irlandês George Best teria sido apenas um rapaz bem comportado. 


Seu apelido era Gilda, nome da personagem da atriz Rita Hayworth, em filme com o mesmo nome, devido ao seu temperamento e à sua vaidade. Há também aí, um pouco de maldade, pois Heleno era um jovem bonito e, diferentemente da maioria dos futebolistas da época, tinha um grau de cultura elevado, notadamente quando comparado àqueles de seus colegas de profissão.


Heleno não teve sorte. Sua melhor fase aconteceu exatamente durante a Segunda Guerra Mundial, o que fez com que fossem cancelados os Mundiais de 1942 e 1946. Uma lástima para o Brasil e para o resto do mundo, que não teve a oportunidade de conhecer sua genialidade. Depois de anos no Botafogo, clube ao qual até hoje o seu nome é imediatamente associado, seguiu para a Argentina para jogar no Boca Juniors, onde não teve uma passagem marcante. Dessa passagem por Buenos Aires, surgiu a lenda de que teve um caso com a então primeira dama do país, Eva Peron. Voltou ao Brasil e foi campeão pela primeira e única vez por um clube, exatamente no Vasco da Gama, em 1949. De lá foi atuar no colombiano Atlético Junior de Barranquilla, junto com outros brasileiros, entre os quais se destacava o futuro técnico Tim, conhecido como “A Raposa”.


O jornalista colombiano Andrés Salcedo relata em seu livro “El día en que el fútbol murió” a passagem de Heleno pela cidade. Segundo o autor, Heleno mostrou nessa cidade que era refinado, elegante e mulherengo e, também, claro, o seu temperamento forte. O então jovem jornalista do El Heraldo, Gabriel García Márquez, futuro Prêmio Nobel de Literatura, publicou duas colunas sobre o craque brasileiro. Em uma delas escreveu que quem ia ao estádio para ver Heleno, o fazia para aplaudi-lo ou vaiá-lo. Heleno contraiu sífilis, não se sabe onde, mas se sabe como, que atingiu seu cérebro, o que acentuou ainda mais seu temperamento peculiar. Morreu louco em um sanatório na cidade de Barbacena, em 1959, com somente 39 anos.


Voltando ao nosso Futebol de Mesa, conhecemos alguns Gildas, nem tanto pela cultura refinada e pela beleza, muito mais pela excentricidade no comportamento. Você, estimado leitor, conhece alguém que se encaixe no perfil?

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Formado em Agronomia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, José Carlos Marques Cavalheiro, nasceu na capital carioca no ano de 1962. Foi atleta de futebol de mesa na modalidade Bola 12 Toques de 1998 a 2005, quando foi viver em diferentes lugares: São Paulo, Paris, Jundiaí e Bogotá, onde atualmente reside. É o responsável pelo site da FEFUMERJ desde dezembro de 2004. Atualmente exerce o cargo de Diretor de Comunicação da entidade.

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