Painel do Mundo
Por Giovanni Nobile (20/10/2024)
O Grande Prêmio de São Paulo de Fórmula 1 de 2024 vai acontecer entre os dias 1º e 3 de novembro. E esta talvez possa parecer uma frase estranha para começar uma crônica sobre futebol de botão. De toda forma, pela segunda vez eu faço essa referência em minhas crônicas por aqui, na coluna Tá no Filó, no Mundo Botonista. A primeira vez, foi em maio de 2022. E o tempo passa, o tempo voa... e tanta coisa que existia já não existe mais.
Bom... comecei falando de F1, já que o evento no GP de SP deste ano será especial em homenagem aos 30 anos do legado de Ayrton Senna. Sim, 30 anos, já. 30 anos e meio, para ser mais certeiro.
Lendo reportagens a respeito, vi que a Honda e a McLaren Racing vão realizar o evento “SENNA SEMPRE”. O carro McLaren Honda MP4/5B, que Senna usou na vitória de 1990, será pilotado em uma demonstração e o carro será exibido na pista do Autódromo de Interlagos.
Fosse no futebol, estaríamos falando do Tetra e os 30 anos que se passaram de lá para cá, talvez. Muita gente já não acompanha a F1, evento de nicho, mas que antes era de massa, já que existiam poucas opções do que ver na TV no domingo na hora do almoço. E como tínhamos as vitórias de Senna, juntava o útil ao agradável. Será que era isso que acontecia também com o futebol? Ele é pior e só? Ou a atenção dividida com as redes sociais, o Netflix, etcetera e tal, é que o fazem ter um jeitão de pior ainda? Faz muito tempo que não vejo uma partida completa na TV. O futebol, como o automobilismo da F1 daquele tempo comparado com o de hoje, já não é a mesma coisa, especialmente no som e design dos carros também. Ambos não são. Muita tecnologia envolvida. Muita técnica. Muito estudo. Muito tudo.
Seria o futebol de mesa, para mim, o futebol de hoje, sendo o futebol de botão, como o jogo que eu assistia na TV com Silvio Luiz, Luciano do Valle ou até mesmo com Galvão narrando jogo do Paulistão? Seria a F1 de hoje em dia, com carros que nem sujam os mecânicos, assim como o futebol de mesa, todo limpo e silencioso e competitivo? Seria o futebol de botão, para mim, como aquelas cenas de gente pulando o alambrado e invadindo a pista para comemorar entre os carros em Interlagos, ou com a turma no padock sem camisa e fumando e bebendo enquanto davam um trato no motor de uma McLaren?
Ayrton Senna foi um dos maiores ídolos do esporte brasileiro e um tricampeão de Fórmula 1. Ele morreu em um acidente fatal em 1º de maio de 1994, durante o Grande Prêmio de San Marino. Às vezes eu acho que meu futebol de botão morreu num acidente fatal, deixando a memória viva e o legado de golaços no chão da sala.
É mais uma crônica saudosista, como várias? Sim. É a vantagem do cronista: apelar pra memória e achar que tudo era melhor antigamente. Ainda que o gramado de hoje seja melhor, que os jogadores sejam atletas de verdade, que até o pior goleiro saiba jogar com os pés também. Ainda que as curvas sejam a quase 300km/h, que existam diversas ultrapassagens, que o campeonato atual esteja emocionante. Ainda que a habilidade e a acurácia em cada um dos toques até o chute esteja cada vez mais refinado, com um jogo extremamente cerebral. O cronista saudosista sempre vai preferir a graxa, o gramado alto, o botão de plástico.
Eu ainda gosto muito de F1. Ainda gosto muito de futebol de botão. Ainda gosto muito de futebol. Mas confesso que nem sempre consciente se esse gostar é fruto da semente plantada há anos, ou se é semente nova, para frutos futuros.
Antigamente, falar sobre antigamente remetia aos anos 1950... 1970. Hoje, 1990 é nosso antigamente. E o tempo passa voando, como na reta de Interlagos num GP de Fórmula 1.
Será que em 2054, estaremos falando de corridas de carros elétricos e futebol virtual? Quem de nós estará colhendo os frutos da semente do Futebol de Botão de hoje? Este sim será um Grande Prêmio, o legado das nossas infâncias semeando os jogos décadas após décadas.
Giovanni Nobile é jornalista e fundador do Águia Branca Futebol de Mesa (time que nasceu nas quadras de futsal em Santo Antônio da Platina, no Paraná, fez um jogo em 1997, ganhou, e se orgulha de ser o time há mais tempo invicto no mundo - tudo bem que nunca mais jogou, mas essa é outra história). Seu melhor resultado nas mesas foi um vice-campeonato de etapa na série extra da Liga União, cuja medalhinha tem guardada até hoje. Há mais de 10 anos, vive em Brasília. Por aqui, traz crônicas aos domingos sobre o nosso Mundo Botonista.
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