Painel do Mundo

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MUNDO BOTONISTA

Por Marco D´Amore (16/03/2024)

Jogar e brincar basta começar

Nobres amigos, no momento em que assumo esta nova coluna dentro da plataforma Mundo Botonista, quero iniciar agradecendo, primeiramente, ao seu diretor Jeferson Carvalho e toda a sua equipe pelo convite para fazer parte desse timaço de cronistas que já integram o Painel do Mundo aqui no portal. Confesso que logo de cara fiquei muito feliz, mas, ao mesmo tempo, fui sendo tomado por uma certa tensão, como se fosse um contra-ataque em final de jogo - tendo a chance de fazer um gol decisivo. Não prometo balançar a rede mas, no mínimo, caprichar no lance, não “tremer” muito, e dar o meu melhor.

Seria deselegante, contudo, assumir uma cadeira aqui sem antes me apresentar àqueles que ainda não me conhecem. Minha história com o futebol de botão teve início no Natal de 1979 quando eu com quatro anos e meu irmão, então, com seis, ganhamos de presente um campo Estrelão e um time (desses vendidos em banca de jornal) cada. A partir daí, joguei por 14 anos ininterruptos, passando pelos conhecidos “tampas” (vidrilhas), e desde 1982, em mesas de tamanho oficial. Em 1987, vi uma célebre capa da revista Placar cheia de botões na qual constava o contato do saudoso artesão Lorival de Lima). E, acredite, lá fomos, eu e o mano, mais dois amigos, conhecê-lo. Compramos os nossos primeiros times “oficiais” de acrílico, com os quais  jogávamos torneios no prédio misturando com os tampas, e alguns raros campeonatos fora quando a “coisa era mais séria”.

Em 1993 comecei a parar um pouco – famoso hiato de 20 anos: faculdade, trabalho, casamento, trabalho de novo, filhos, e mais trabalho – até que em 2012 conheci uma figura daquelas que a vida nos coloca no caminho de forma divina, o querido Aldir, que me levou ao Grêmio Butantã, de outro querido amigo, Júlio Paterno. Joguei apenas por lá, mais na base da “brincadeira”, até 2017, quando me federei pelo TMJ, após convite do Laércio e já ser amigo do Olino do mesmo GB, há mais tempo. Atualmente, estou no Dalmácia, clube croata, localizado na Moóca em São Paulo, e que mantém as raízes fortes, algo que sempre gostei.

É justamente nisso que eu acredito e é também o que me traz até aqui. Regar as raízes, manter a base forte, para que a árvore continue crescendo. A minha preocupação é perpetuar o botão, e só há uma forma de realmente garantir isso: apoiar de forma séria, contínua e irrestrita a nova geração. Confesso aos amigos que muitas vezes me sinto como vivendo a famosa fábula de Hans Chistian Andersen - "A roupa nova do rei", na qual um rei encomenda uma roupa nova feita por um alfaiate pra lá de esperto que lhe apresenta um tecido “único” (invisível). O rei, não querendo demonstrar ignorância, sai às ruas para desfilar nu e o povo, também com o receio de contrariar o rei finge não estar vendo a cena absurda até que uma inocente criança grita “-O Rei está nu”. O grito, que dá nome a essa coluna, é, acima de tudo um convite a toda a comunidade do futebol de mesa para que encaremos a realidade, saiamos da inércia e busquemos soluções, juntos! Não há tema proibido. 

A imagem que escolhi para ilustrar essa primeira crônica também é uma analogia. Não vou alongar a explicação, pois o especialista em cinema aqui no portal é nosso amigo Julinho Simi (do “Muito Além das Mesas”)... mas farei minha citação de maneira sucinta: Trata-se de uma imagem do filme “Zona de Interesse” no qual podemos acompanhar a rotina de uma família que mora nos fundos do campo de concentração de Auschwitz. Acaba o muro, começa a casa dos sonhos dessa típica família - com pai, mãe e filhos “perfeitos” que brincam completamente omissos.

Nesta minha primeira temporada vou me dedicar a essa questão urgente: A renovação dos quadros de adeptos no nosso esporte tem se dado em ritmo e quantidade insuficientes para mantermos o futebol de mesa para as próximas gerações. O problema é real, e está escancarado. Nós botonistas ranqueados, tabeleiros, preeenchedores de súmulas, gostamos de números. Então vou apelar aos números para tentar dar a vocês a dimensão do problema: A cada adulto que joga botão zero crianças jogam. Se colocarmos mais uma casa decimal, continuamos nulos (0,0). Para que os números consigam acusar a presença de garotos no nosso esporte precisamos aumentar mais uma casa decimal. Atualmente, em São Paulo, a cada 1 adulto apenas 0,04 crianças jogam botão. A cada 100 adultos, 4 crianças jogam. Tais dados são do BID/SP 2024. E pelo restante do país não é diferente.

Uma solução simples e barata, que já foi muitas vezes colocada à prova e em todas tirou “nota 10”, é colocar uma mesa e respectivos materiais sobre ela (os botões, a bolinha, palhetas) à disposição das crianças. Isso já foi feito em algumas ocasiões de forma pontual - escolas, clubes, shoppings, praças, museus, SESC’s, entre outros lugares de grande circulação da nova geração. Quando esse primeiro contato ocorreu o que se viu foram os costumeiros deslumbres maravilhados e brilhos nos olhares (os mesmos que o futebol de botão nos provocaram um dia no passado). Outra iniciativa, mais barata ainda, praticamente gratuita, é levar os filhos juntos aos clubes, nos treinos, nos torneios para conhecerem mais de perto o jogo. Muitos são críticos e dizem que o futebol de mesa Sub-18 só sobrevive graças a isso, mas é o que temos! Então vamos, pelo menos, apoiar esse formato. Nesse momento, mais urgente, não precisamos de projetos muito grandiosos para apresentar o botão aos iniciantes. Jogar e brincar, é só começar!

Na próxima crônica iniciaremos a discussão de quais as soluções para mudar essa triste realidade e tratarmos essa questão. Encaremos com humildade e honestidade essa nossa dor de ver o nosso esporte cada vez mais distantes das crianças. Finalizo convocando você que quer tentar fazer algo para salvar o futuro do futebol de mesa em caráter de urgência. Ajude-nos com sugestões. O foco desse pontapé inicial foi mais a garotada, mas o mesmo vale também para as mulheres, os adultos novatos, enfim, todos aqueles que raramente são vistos nas mesas.


Um grande abraço a todos e nos falamos em breve. Até a próxima!

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Marco Aurélio D’Amore nasceu em 1975 em Sta. Bárbara d’Oeste, é formado em Engenharia Civil, com pós em Produção, é um eterno entusiasta da Gestão de Projetos. Joga botão desde 1979 e é federado desde 2017, quando foi batizado Marco Butantã em homenagem ao Grêmio de mesmo nome. Ama o “Botonismo”, mas a briga pelo 1º lugar é boa com a Música! “Mil tons” à parte, gosta de missões bem difíceis, como apresentar o contradito e desafiar as obviedades discursivas. Como cronista da coluna "O rei está nu" Marco quer ser a voz de todos aqueles que se preocupam com a renovação do futebol de mesa em todo território nacional - divulgando as melhores iniciativas de reintegração de atletas e formação de novos adeptos.

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damore@mundobotonista.com.br

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