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MUNDO BOTONISTA

Por Sérgio Travassos (08/08/2024)

Jogar por amor

Há alguns livros que visito e revisito. Saramago, Orwell, Hugo Mãe, Unzelt, Nietzsche... tantos autores que formariam uma bela seleção para um time de botão – ainda penso em fazer um com essa ideia. Um dos autores que mais gosto de ler é Eduardo Galeano. De escrita fácil, temas cotidianos que, muitas vezes, nos passam despercebidos, e na “pena” ou na tecla desse autor, viram arte. Eternizam-se. 

Dia desses, em um café tipicamente paulistano, sentei-me sossegado. Pedi uma “média” (café com leite). Na TV, um jogo de futebol feminino. Enquanto os atendentes corriam de um lado para outro para servir a todos da forma mais rápida e eficaz possível, deti-me absorto na belíssima edição argentina de Futebol a Sol e Sombra (Editora Catálogos, 2007), cujo a capa mundial, em laranja, traz o time do Santa Cruz F.C. em bonecos de barro de Caruaru. Fácil de encontrar nas prateleiras.

Dentre tantas crônicas pessoais sobre o futebol, Galeano discorre sobre o Jogador. Que o sonho de todos é tornar-se um jogador para lograr êxito na vida. Deixar o trabalho duro da pessoa comum. No entanto, tal qual uma mercadoria, é comprado, vendido, emprestado. E se vai de um canto a outro do mundo, sob um regime quase militar, a treinar, tomar remédios, vitaminas, infiltrações. Deixa, portanto, de jogar pelo prazer. Pelo amor de, simplesmente, querer jogar.

Essa é uma alegria que devemos ter, sempre, de jogar por querer jogar. Apenas pelo amor pelo jogo de tabuleiro, salão, mesa, não importando como chamam ou como jogam. Apesar da regra 1Toque ser daquelas que muitos dizem ter menos emoção do que as demais – no que aviso logo, discordo total e integralmente, ainda assim há nele um prazer que não fica restrito ao gol. Aí é o motivo que discordo da sentença comum quando falam do futmesa. A emoção está em cada jogada. O campo traiçoeiro, o clima, o barulho do ambiente, a iluminação ou a tão famigerada “bolinha”, teimam em nos provar que decidimos algo errado.

Por isso, jogamos por uma emoção constante. Num campo gigante e belo, uma recuada traz consigo um suspense incrível, tal qual os melhores contos de Allan Poe. E é esse prazer, amor, tesão, que tem que ser vivido ao máximo. Como se degustássemos um belo livro que decidimos tirar de alguma estante, a 1Toque tem que ser sentida de forma silenciosa, concentrada, com a paixão perdida pelo jogador retratado por Galeano.

Por isso mesmo, a maioria dos que amam jogar botão, corre da regra 1 Toque, por ele ter poucas chances de gol e menos ainda, gols. E longe de mim, aqui, condenar as demais regras. Não entendam assim. Há um estilo de futebol de botão para cada gosto. Como temos um livro para cada um. O que desejo dizer é que o futmesa 1Toque é tal qual os livros, onde o prazer vai sendo alcançado a cada capítulo. E todos, temos que ser o contrário do jogador retratado no Futebol a Sol e Sombra, afinal, somos amadores. Como tal, temos que ter o amor como base, para melhor aproveitar as várias linhas escritas em um jogo.

Sergio Travassos é diretor do Santa Cruz F.C. há doze anos, jornalista com outras duas formações, Educação Física e Marketing, que atua há muito tempo em prol do desporto pernambucano. Tendo passagens pela Federação Pernambucana e CBFM. Sendo uma das figuras que mais defende o jogo de futebol de mesa, independente da regra de atuação, bem como que as competições sejam feitas em locais públicos, visando atrair mais visibilidade para o futmesa.

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travassos@mundobotonista.com.br
(081) 97100-2825

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