Não fui e nem me darei ao luxo de ir ao Guiness Book para consultar, até porque já sei a resposta: o jogo mais demorado da história do futebol de botão aconteceu comigo e com meu amigo Miled.
O Miled, de família de origem libanesa, era o nosso “saco de pancadas” do botão. Sempre que alguém tinha um jogo difícil nos nossos campeonatos, treinava no dia anterior contra ele. Era goleada em cima de goleada. O engraçado é que quando ele fazia um gol ou arrancava um empatezinho, comemorava mais do que nós. Impagável.
Por ser de uma família bem estruturada financeiramente (podre de rico, não sejamos tão elegantes no discurso, assim), muitas vezes jogávamos em sua casa, na sua mesa. Espaço era o que não faltava.
A mãe dele sempre nos servia como lanche os pães árabes com umas misturas pra lá de especiais no meio. Era bacana quando ela pedia se queríamos um lanche diferente e o NÃO era uníssono. Quer dizer, exceto pelo Miled, que preferia outro tipo de comida. Entendíamos ele, mas como a maioria sempre vencia, o lanche seria aquele e fim de papo.
Teve uma tarde em que apenas eu consegui ir em sua casa para jogar. Ficamos, se não me engano, três horas dando palhetadas. Já estava começando a escurecer e falei que precisava ir embora. Ele pediu que jogássemos a última partida, mas que fosse no chão da sala (adivinhe, ele tinha perdido todas jogando na mesa). Aceitei, claro, o Miled era gente boa ao cubo.
Montamos nosso “campo” e iniciamos o jogo. Acredite se quiser, o Miled fez 1 a 0 bem no começo da partida. Naquilo, sua mãe pediu que recolhêssemos tudo, pois logo chegariam visitas. Foi o suficiente para ele surtar. Imagine você: ele sempre perdia, raramente fazia um gol e justamente quando tudo se invertia, um balde de gelo caía sobre sua cabeça.
O Miled acabou conseguindo convencer sua mãe a deixar tudo como estava para prosseguirmos no dia seguinte. Ela se sensibilizou com o relato emocionado dele, mantendo a bagunça naquela sala enorme.
No dia seguinte, quando cheguei, ela me contou que foi muito engraçado ver as visitas (dois casais de amigos que foram jantar, lá) desviando dos botões, como se pisassem em ovos, enquanto o Miled vigiava sem piscar os olhos para que ninguém provocasse um acidente.
Enfim, seguimos o confronto, virei o jogo e ganhei por 4 a 1. Mesmo sem o reconhecimento do Guiness Book, venci a partida mais longa da história do futebol de botão, aquela que começou em um dia e terminou no outro. Ah, claro, com direito a pão árabe com umas misturas pra lá de especiais no meio assim que o jogo acabou...