O passatempo favorito do Fabinho era jogar futebol de botão. Na época do Atari, ignorava videogames. Olhava de soslaio para autorama, não achava graça alguma em Lego, Playmobil e muito menos se interessava em jogar Damas ou Ludo. Botão e pronto.
Fabinho era um garoto muito criativo. Assim, inventou o ônibus do time que “viajaria” e jogaria como visitante na tabela do campeonato de seu caderno de quatro matérias. Pegou uma caixa de sapato para ser o “busão” e saiu catar caixinhas de fósforos para colar dentro dela e fazer os bancos. O ônibus estacionaria no “hotel” (o gavetão da estante da sala) e ali passaria a noite, até por que o jogo seria no dia seguinte.
Seu pai, que Deus o tenha, era fumante e morreu em consequência do cigarro. Porém, em sua inocência da criança, Fabinho detestou quando ele trocou os fósforos pelo isqueiro. Os bancos do ônibus acabariam demorando um pouco mais para ficarem prontos.
Atualmente o pessoal que joga profissionalmente tem aqueles bonitos ônibus de feltro, corino, maletas, enfim. Mas Fabinho até hoje duvida que os caras se divirtam tanto como ele se divertia com suas caixas de sapatos com caixinhas de fósforos para tentar deixar cada jogador o mais confortável possível.
Ah, já estava esquecendo: tampinhas de garrafas de refrigerantes eram coladas por fora para servirem de pneus. Senão como o ônibus iria andar, não é mesmo? Tudo bem pensado.
Outro detalhe: sabe aquele botão quebrado que não era jogado fora por respeito à sua história? Ele ficava de motorista. Alguém teria que dirigir. Como citei acima, tudo bem pensado. Becão. O nome do “motora” era Becão. Um zagueiro do velho Juventus da Mooca que acabara aposentado por invalidez.
Quem jogava seguido com o Fabinho naquela época era o Toni, seu melhor amigo. O tempo passou, a fase adulta chegou e continuaram morando na mesma cidade. Óbvio, mantiveram firme e forte a paixão pelo futebol de botão.
Recentemente combinaram de passar um sábado inteiro jogando botão na casa do Toni. Durante a semana que antecedeu o encontro, numa espécie de volta ao passado, Fabinho resolveu montar um busão das antigas. Mas e os bancos? Barbada: foi ao supermercado e comprou dezenas de caixas de fósforos para deixar tudo nos trinques. E o que fazer com os fósforos? Barbada, também: teriam muitos para usar na cozinha de casa.
Não podemos comparar a criatividade do Fabinho com os belos busões “profiças” de hoje em dia. Porém, não apenas o Fabinho, mas você e eu, sabemos o quanto era divertido fazer daquele jeito. Era como viajar 600 quilômetros de Chevette para ir ao litoral. A gente não apenas chegava, como até hoje tem histórias bacanas para contar.
Aliás, levante o dedo quem não teve uma alma de Fabinho nos bons e velhos tempos de infância...