Painel do Mundo
Por Sérgio Travassos (16/05/2024)
Entre todas as invenções humanas, uma que mais admiro é a música. Inventar uma melodia é quase como criar uma nova perspectiva para algo. E como é rica a capacidade de alguns em criar algo que nos faça pensar ou, simplesmente, nos faça sentir. Desde que me entendo por gente, a música acompanhou-me. Lembro-me de acordar de madrugada, lá pelos meus cinco, seis anos e pegar, bem devagarzinho, o radinho de pilhas azul que havia ganhado de minha tia Marinalva. Ligava na Rádio Tamandaré, e ficava a ouvir músicas de tempos que não vivi. Creio que eram músicas tão antigas no programa Manhã da Saudade, que nem a minha mãe viveu muito. Mas era uma forma bem bacana, tranquila e agradável de despertar antes do sol nascer. Depois, nos finais de semana, lembro de ouvir Elis Regina, Clara Nunes, Caetano, Gil, Chico, Morais Moreira, Jorge de Altinho, Alceu, Amelinha, no quarto de tacos com desenhos lindos e que brilhavam sob a luz natural que penetrava pela janela.
O mesmos tacos que eram tão belos como os campos de Crosa eram os meus primeiros campos de jogo de botão. A cama era uma arquibancada com cadeiras, camarotes, tribunas de imprensa. Do outro lado, o guarda-roupas era a arquibancada. A cadeira de balanço, atrás do gol, virava uma bela geral que balançava com o vento. E o som 3x1, CCE brilhante em prata, sempre com um disco a girar, emitia sons familiares. E o jogo de botão sempre foi sinônimo de gritos de torcida inventados pela cabeça infantil e de boa música. Os anos se passaram, o chão de taco deu lugar ao Estrelão, depois à mesa da sala de jantar de minha tia e madrinha Bernadete (tia Bel). Embates ferozes ocorriam com os meus primos Aluisinho (o famoso Gigante da Beira Mar) e Chico (grande professor), alguns deles, claro, dependendo da hora, com a música que vinha da sala de estar da maravilhosa casa de meus tios na praia de Candeias, litoral Sul.
A música continua a me acompanhar. Quando consigo um tempinho para treinar, coloco os fones e aprecio as ondas musicais e percebo que sou influenciado por elas. Twisted Sister uso para lançamentos longos. AC/DC é uma boa para travadas fortes. Elis é escalada para recuadas finas. Arremates tem a companhia de Katie Melua. Passadas no meio-campo, ideal ter Novos Baianos. Obviamente, não é algo estático. Vou escalando de acordo com o momento e, sempre, a pedido dos botões. Durante um jogo, a trilha sonora vai sendo encaixada a cada instante, como se eu girasse o botão do rádio em busca de uma boa música. 4Non Blondes, Green Day, Sex Pistols (para os momentos mais desesperados, em busca de um resultado), Chico Science, Mestre Ambrósio, Zeca Baleiro, Manu Chau, Flaira Ferro, vão aparecendo na mente, como cartas que busco jogar para um melhor desempenho.
Aconselho aos colegas do jogo a imaginar uma música ou escrever a sua própria música. Se não der certo, ao menos, torna bem mais divertido o jogo. Enfim, a música é uma alegria, às vezes é um alento. Mas sempre é uma boa companhia. E, já que não passei o amor pelo jogo para a minha filha, fico bastante feliz por ter passado um pouco do gosto musical, tanto quanto pelo silêncio.
Sergio Travassos é diretor do Santa Cruz F.C. há doze anos, jornalista com outras duas formações, Educação Física e Marketing, que atua há muito tempo em prol do desporto pernambucano. Tendo passagens pela Federação Pernambucana e CBFM. Sendo uma das figuras que mais defende o jogo de futebol de mesa, independente da regra de atuação, bem como que as competições sejam feitas em locais públicos, visando atrair mais visibilidade para o futmesa.
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