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MUNDO BOTONISTA

Por Giovanni Nobile (14/11/2021)

Qual é a sua Telstar?

Quando imaginamos uma bola de futebol, não é muito difícil ter aquela imagem da bola preta e branca. Ela é a bola da copa de 1970 e reside até hoje no imaginário da maioria das pessoas como referência visual de bola de futebol. Trata-se do modelo da Adidas, batizada como Telstar, feito de couro impermeável, nas cores preta e branca, o que melhorava a visibilidade na TV, na época. Foi a primeira bola com 12 gomos pentagonais pretos e 20 gomos hexagonais brancos.


Quando eu estava pesquisando sobre isso, cheguei em umas informações que achei curiosas e replico aqui: desde a primeira copa, as bolas tiveram muitos modelos diferentes, assim como seus materiais de produção e tecnologia envolvida em todo o processo. Antes, elas eram de capotão, fechadas com cordas à mostra, o que deixava uma espécie de superfície desnivelada, que até mesmo machucava os jogadores. Hoje, para se ter uma ideia, a Fifa exige que as bolas comecem uma partida pesando entre 420 e 425 gramas. Mas naquele tempo, se tivesse uma chuva, as antigas bolas absorviam a água e chegavam a pesar até 1 quilo! Sim, amigos. Pelé e cia fizeram o que fizeram jogando com essas verdadeiras pedras.


De lá pra cá, muita tecnologia e design foram aplicados. A bola que gerou maior polêmica talvez tenha sido a famosa Jabulani. Lembram dela? Tinha 11 cores, simbolizando cada dialeto da África do Sul, na copa de 2010. Os jogadores reclamavam que, por sua leveza, ela fazia uma trajetória diferente da esperada (vejam só, tem reclamação sobre bolinha também para além do nosso mundo botonista). Por isso, a bola da copa seguinte, aqui no Brasil, precisou ser aprovada por 600 jogadores de dez países, em dois anos e meio de testes. E, pela primeira vez, o nome foi escolhido em uma votação pública, que envolveu 1 milhão de brasileiros através da Internet. O nome escolhido para a bola foi Brazuca. Eu não lembrava desse nome. E assim como seu nome, seu modelo também é pouco lembrado. Aliás, bom mesmo esquecer muito do que se passou naquela Copa...


Só que quando falamos em bola de futebol de botão, aí a coisa muda de figura um pouco. Não existe uma “Telstar” unânime, assim como há no imaginário futebolístico. Sobre bolas de futebol de botão, alguns pensam no modelo de feltro, com círculos desenhados lembrando um “alvo” (muito parecido com o que temos na logomarca aqui do portal Mundo Botonista, por exemplo). Outros imaginam em formato quadrado ou em forma de disquinhos ou pastilhas de diferentes cores, inclusive.


No meu primeiro contato com o futebol de botão, as “bolas” eram disquinhos pretos e vinham nos jogos comprados em padaria ou bancas de jornal em formatos que variavam de tamanho. Eu gostava de jogar com os disquinhos “mais gordinhos”. Achava que os chutes saíam mais bonitos, firmes. Eu até mantinha os discos mais finos guardados na latinha de bolinhas, mas nunca escolhia esses. Assim como alguns eram coloridos. Disquinhos verdes, azuis ou amarelos. Mas os pretos eram os que predominavam na minha coleção. Às vezes eu precisava até mesmo dar uma lixada neles, para tirar alguma sobra de plástico que atrapalhava o jogo. Depois, consegui alguns brancos e achava que eles imitavam mais a bola de futebol Telstar que estava no nosso imaginário – e está ainda hoje – apesar de eu ter nascido mais de uma década e meia depois da copa de 1970.


Depois, conheci o Fábio na escola. Ele foi um dos meus amigos de infância com quem mais joguei futebol de botão. Jogava bola, videogame, andava de bicicleta, curtia o Senna e as revistas do Senninha, ouvíamos Mamonas Assassinas e imitávamos guitarristas e baixistas, mesmo sem saber tocar. E jogávamos futebol de botão, mesmo sem saber jogar. Eram regras nossas, inventadas na hora. E uma vez chegou às nossas mãos uma bolinha de feltro usada, sei lá de onde. Aquilo foi o máximo. A gente jogava no chão da casa dele ou da minha, sem campo tipo “Estrelão” nem nada. Os disquinhos às vezes enroscavam no rejunte do azulejo ou na divisória entre uma tábua e outra do piso. Mas a bolinha, não. E aquilo era demais! Depois a estrutura do time melhorou, com um pequeno quadro verde com as linhas demarcatórias do campo desenhadas em giz. Era nosso estádio. Meus pais chegaram até a organizar um campeonato no “predinho”, nome que a gente dava para o edifício de seis andares onde morei um tempo. Serginho, Galileu, Ferdinando, Gulliver... Os vizinhos todos jogaram, teve medalha e tudo. Mas jogamos esse campeonato com disquinho. Voltando à bolinha de feltro, brincamos um pouco, mas depois ela sumiu, debaixo de algum sofá, ou varrida para o lixo, sei lá.


Aí, passamos a adaptar: nossas bolas passaram a ser feitas de papel alumínio amassado até virar uma bolinha, toda irregular, é verdade, mas muito bacana de jogar, já que dava todo um charme de morrinho artilheiro nos jogos, por exemplo. Coisa de paixão pelo futebol e pelo futebol de botão. Não tem explicação, não. Até que, um dia, mudei de cidade. Nunca mais joguei com essas bolinhas... acabei voltando para meus disquinhos. E só muito tempo depois fui ter contato com as bolinhas de feltro ou E.V.A de hoje em dia, por exemplo. Só que quando penso em bola de futebol de botão, ainda penso naquela de papel amassado. Ela foi minha Telstar, talvez, numa competição acirrada com o disquinho preto “gordinho”. Ainda hoje, quando ouço Legião Urbana, imagino o Eduardo jogando futebol de botão com o avô dele com uma bolinha dessas, amassadinha. Enfim, coisas que só a paixão pelo futebol de botão explica. E quem um dia irá dizer que não existe razão nas coisas feitas pelo coração?


Giovanni Nobile é jornalista e fundador do Águia Branca Futebol de Mesa (time que nasceu nas quadras de futsal em Santo Antônio da Platina, no Paraná, fez um jogo em 1997, ganhou, e se orgulha de ser o time há mais tempo invicto no mundo - tudo bem que nunca mais jogou, mas essa é outra história). Seu melhor resultado nas mesas foi um vice-campeonato de etapa na série extra da Liga União, cuja medalhinha tem guardada até hoje. Há mais de 10 anos, vive em Brasília. Por aqui, traz crônicas aos domingos sobre o nosso Mundo Botonista.

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nobile@mundobotonista.com.br

(061) 98105-0356

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