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MUNDO BOTONISTA

Por Gustavo Martorelli (28/08/2024)

Repelente natural

Existem vários tipos de repelentes naturais. Os polos iguais do imã se repelem, a citronela repele mosquito, a luz repele a escuridão, o fogo repele o frio e o ser humano repele a culpa. Não acho que é um problema da geração atual, mas penso ser um problema inerente ao ser humano a dificuldade em assumir suas responsabilidades em seus erros. Alguns mais graves, outros mais brandos, alguns culposos (sem a intenção), outros dolosos (com intenção), mas o fato é que o erro sempre esteve presente na humanidade e a dificuldade em lidar com a responsabilidade também. De todos e em todos os tempos.

Até mesmo no direito existe um incentivo para o réu que confessa sua responsabilidade nos atos falhos sendo este traduzido em redução de pena. Seria esse instituto uma espécie de suborno às avessas? Deixamos essa discussão para uma próxima. O fato é que podemos notar esse drama em qualquer experiência humana, mas permitam-me colocar a perspectiva em um microscópio e trazer para o nosso mundinho dos acrílicos nas mesas.

É fato histórico e notório que botonistas têm grande dificuldade em assumir sua incompetência diante de um revés. Um toque mal-sucedido é culpa da mesa, uma preparação errada para o chute, a culpa é do cavalete, um chute na trave a culpa é da bolinha e por aí vai... impera a Lei de Homer Simpson que uma vez disse “a culpa é minha e eu coloco ela em quem eu quiser”. A pergunta aqui que deve guiar nossa autocrítica é: qual a minha responsabilidade diante do meu fracasso? O que eu poderia ter feito diferente para alcançar um resultado melhor?

Acho eu que minha teoria faz sentido porque todos nós sabemos que são basicamente sempre os mesmos que chegam nas finais em todos os estados, com raras surpresas. E esse seleto grupo usa a mesma mesa, mesma bolinha, mesmo cavalete, faz time e palheta nos mesmos fabricantes que fazem para todo o resto que transborda em reclamações das mais absurdas (e de extrema falta de educação em muitos sentidos).

Sugiro então que temos duas principais variáveis para analisar. A primeira é o dom (ou talento, ou habilidade natural). Penso ser unanimidade de pensamento que cada um nasce com talentos diversos dos outros. Cada um tem facilidade em aprender algumas coisas que outras pessoas não tem. No nosso esporte é necessária uma série de habilidades que alguns tem e, perdoem-me a franqueza, outros não. O que não significa que o indivíduo que não tem essa habilidade natural não possa a aprender pela repetição. E então entra a segunda variável, a dedicação. Essa é a que separa de fato os homens dos meninos. Na dedicação o menos talentoso supera o grande astro que não mais se dedica tanto. Com dedicação, o improvável pode chegar ao grupo da elite e na falta dela a “grande promessa” vai a pique. Quantos exemplos assim temos no futebol de campo, por exemplo? Quantas promessas do seu time não deram em nada? Vai perder as contas. Fato é que nosso esporte exige dedicação, empenho, suor. Não adianta querer ganhar se você não treina com constância, estratégia e muita dedicação. 

Falando dos materiais do nosso esporte, eu tive o privilégio de poder acompanhar grandes fabricantes por diversas vezes em visitas e longas conversas (não cito nomes por ética) e sempre foi grande o zelo e dedicação (olha ela aí de novo) de cada um deles para entregar o melhor produto pra cada um dos seus clientes. Claro que existem falhas, mas não consigo crer que alguma delas seja proposital (como alguns sugerem pelos guetos botonísticos) e a maioria dessas possíveis falhas, em regra, não alteram o resultado de campeonato nenhum porque elas são democráticas e não acontecem somente para um dos dois jogadores que estão na mesa. Lembra que chegam sempre os mesmos?

Para encerrar, nós somos tão incoerentes que culpamos os materiais pelo insucesso, mas quando temos sucesso, o mérito é todo nosso mesmo, não é? Nunca vi ninguém dizer que ganhou um campeonato porque a bolinha estava ótima, a mesa deslizando e o cavalete nivelado, mas sim porque jogou bem e fez os gols que precisava e se acha o maior craque daquele dia. Quanta hipocrisia!

Para chegar em alto nível, todo esporte requer dedicação extrema e tempo de desenvolvimento e se você não se dedica, por favor, não coloque a sua culpa nos outros. É feio. Assuma suas responsabilidades no seu insucesso, para ter mérito na sua glória.

Biblioteca de "Jogo de cavalheiros"
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Gustavo Martorelli

Gustavo Martorelli, conhecido como Guga, nascido em São Caetano do Sul (SP), é federado desde os 12 anos quando oficializou uma tradição de família. Hoje é empresário em Campinas e formado em Direito e Teologia. Passou por ABREVB, São Judas, Meninos FC e Palmeiras. Voltou a defender o Meninos FC em 2023. Morou em diversos países como África do Sul, Senegal, Gâmbia e Jordânia, trabalhando com desenvolvimento humanitário e, além do arroz e feijão, do que mais sentiu falta foi de jogar botão.

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guga@mundobotonista.com.br
(019) 99650-5605

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