Painel do Mundo
Por Giovanni Nobile (08/05/2022)
Li essa frase que usei como título dessa crônica em algum lugar por aí. Falhei em não anotar a fonte. Se alguém souber, conta aí nos comentários. Mas essa frase me chamou muita atenção nesta semana do Dia das Mães. É que o amor de mãe é profundo quando existe ternura, cuidado, carinho nos detalhes. Por isso, recupero uma lembrança que, para qualquer um, poderia soar como banal, talvez... O detalhe da memória que tenho de acompanhar minha mãe na fila do pão e, ali, poder comprar, vez ou outra, um time de botão. O que fica para sempre costuma residir nos detalhes. E foi no detalhe da fila do pão que o amor de mãe criou raízes – assim como em tantos outros detalhes cotidianos da infância. E foi no detalhe da fila do pão que foi plantada a semente da paixão pelo futebol de botão.
Por isso, neste domingo de Dia das Mães, uma crônica pode nos ajudar a ouvir nossas raízes, lembrarmos de nossas referências, honrarmos nossas trajetórias. Desta forma, que possamos resistir, sem normalizar os absurdos diários que vivenciamos em sociedade, mas que possamos, inclusive, utilizar cada vez mais palavras de afeto nas conversas com quem a gente ama. E, com tudo isso, que possamos construir os novos detalhes, hoje, daquilo que ficará para sempre.
Como cronista, lembro sempre que a gente só é capaz de escrever quando a gente se dá ao trabalho de prestar atenção na vida (nem que isso leve décadas). E tem dias que andamos muito distraídos com uma vida cheia de vazios de uma agenda ocupada demais. Busco evitar isso como missão. E nem sempre consigo. É que é nesse vão entre o trem e a plataforma que precisamos cuidar para não cair, não enroscar o pé. Não podemos ficar parados, a ponto de perder a viagem. Existe o momento certo, o instante exato em que o embarque deve acontecer. E aí você vai, para não perder tempo, já que, como cronistas, temos a sagrada missão de escrever o mundo. E, no meio desse parágrafo, viajo e, já que vou longe na imaginação, que eu vá sempre para lugares bonitos.
Um desses lugares bonitos não era exatamente um “onde”, mas um “quando”. O momento em que eu pegava um time de botão, na fila do pão ou numa banca de jornal. Não era a padaria ou a banca em si. Era o instante. Aquele momento do passado junto com minha mãe, em que eu já imaginava a partida, o lance, o chute, a defesa, o rebote, outro chute, e o gol. Tá no filó! A torcida vibra. O time é campeão. E tudo isso, ainda na fila do pão. A mão dada às mãos da mãe. A outra mão, segurando o time de botão embalado num plástico, junto de uma travinha de plástico. E ali se escrevia a vida e o parágrafo desta crônica, numa improvável conexão entre o mundo entre mãe e filho e o futebol de botão... É: a vida mora mesmo nos detalhes.
Por fim, nessa mistura de palavras, que vagam para lá e para cá, criando sentidos, mesmo que sem criar necessariamente uma narrativa linear, aproveito este espaço para desejar um feliz Dia das Mães para todas as mães desse mundo botonista. Mas não sem antes alertar que para desejar um verdadeiro feliz Dia das Mães, é sempre bom deixar claro que flores, café da manhã ou um almoço especial são legais, claro. Mas leiam mães, contratem mães, não interrompam mães enquanto elas falam. Credite o trabalho de toda mãe antes de sair compartilhando por aí como se fosse seu. Ouça as mães deste mundo. Elogie, de forma pública, todo sucesso profissional de uma mãe. Compre de uma mãe. E, lembrando que o que fica para sempre costuma residir nos detalhes, que a felicidade de todas as mães tenha morada nas nossas pequenas atitudes diárias, assim como faz parte do futebol de botão o respeito e a atenção aos detalhes. Feliz Dia das Mães, pro gol e tá no filó!
Giovanni Nobile é jornalista e fundador do Águia Branca Futebol de Mesa (time que nasceu nas quadras de futsal em Santo Antônio da Platina, no Paraná, fez um jogo em 1997, ganhou, e se orgulha de ser o time há mais tempo invicto no mundo - tudo bem que nunca mais jogou, mas essa é outra história). Seu melhor resultado nas mesas foi um vice-campeonato de etapa na série extra da Liga União, cuja medalhinha tem guardada até hoje. Há mais de 10 anos, vive em Brasília. Por aqui, traz crônicas aos domingos sobre o nosso Mundo Botonista.
....................................
nobile@mundobotonista.com.br
(061) 98105-0356