Painel do Mundo
Por Giovanni Nobile (01/05/2023)
O futebol de botão é tão suscetível aos encantos da bola como seu irmão mais velho, o esporte bretão, dos onze contra onze. A mesa, tal como o estádio, é um coração que pulsa, flui e faz existir toda uma fábula de que precisamos para viver naqueles minutos.
Crianças, queremos ser jogadores de futebol quando crescer. Adultos, queremos ser crianças quando assistimos futebol. E, no meio disso tudo, existe o nosso futebol de mesa, capaz de ser o elo entre esses dois mundos.
E aí jogamos futebol de botão como quem diz: "Estamos vivos!". Nosso dever real é salvar nossos sonhos. "Pro gol". É nossa esperança pelo gol que luta. Reinvindicamos o poder de parar o tempo e, por segundos, o mundo para junto.
A palheta.
O botão.
A bola.
O goleiro inerte.
O gol.
Segura a respiração.
E vai.
Dessa vez, foi por pouco. O que me faz lembrar de uma bela citação daquelas que a escritora Cris Lisboa entrega num recorte para que possamos ter a sabedoria de fazer coisas fáceis em dias difíceis:
"A gente é construção e não adianta fingir. A gente está aqui neste lugar lindo, com pessoas lindas, incríveis, mas o mundo está todo arrebentado. Aqui, na Europa, na Síria, nos nossos quartos, está tudo difícil. (…) A poesia, a música, uma pintura, não salvam o mundo. Mas salvam o minuto. Isso é suficiente. A gente está aqui para dançar um pouquinho sobre os escombros. Não deixar que a poeira dê alergia nos olhos. Cada um faz como pode. O cirurgião vai tentar salvar todas as vidas que puder. A gente vai tentando salvar os segundinhos — da minha vida, da vida de todos meus amigos e de alguém que lê uma estrofe. E já é bom”.
Foi assim que, segundo Cris, disse a Matilde Campilho, recordando palavra por palavra. E eu recordo junto, palavra por palavra de suas palavras, pra não esquecer que nosso futebol de mesa não muda o mundo...
... mas salvam nossos minutos.
Giovanni Nobile é jornalista e fundador do Águia Branca Futebol de Mesa (time que nasceu nas quadras de futsal em Santo Antônio da Platina, no Paraná, fez um jogo em 1997, ganhou, e se orgulha de ser o time há mais tempo invicto no mundo - tudo bem que nunca mais jogou, mas essa é outra história). Seu melhor resultado nas mesas foi um vice-campeonato de etapa na série extra da Liga União, cuja medalhinha tem guardada até hoje. Há mais de 10 anos, vive em Brasília. Por aqui, traz crônicas aos domingos sobre o nosso Mundo Botonista.
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