Painel do Mundo
Por Luiz Oliveira (13/04/2022)
A finalização é a lástima de qualquer esporte. Digo isso pensando na quantidade de expectativas que podem caber em momentos tão rápidos. Aqui, em apenas duas palavras: Pro gol!
Toda vez que chego para chutar em gol me sinto aqueles jogadores que puxam sozinhos um contra-ataque sensacional. A torcida se levanta, o narrador sobe o tom de voz e a intensidade das palavras, os companheiros de clube se animam.
O jogador, que já correu sozinho pelo campo todo, teve tempo suficiente para acreditar no golaço e na vergonha, na vitória ou no vexame: Não teve erro. O fracasso veio. Correu tanto que não teve forças para chutar no alvo. Perdeu o controle emocional no meio do caminho. Tremeu. Tropeçou no gramado. A bola desviou no morrinho. Uma infinidade de variáveis ocasionou o erro. Essa é a lástima. Tudo era perfeito antes da finalização.
O futebol de mesa ideal para mim seria como a sinuca, mas daquelas que se joga em mesas sem caçapas. O objetivo? Ferrar com a vida dos adversários, deixando-os sem nenhuma saída. Nesse jogo você mostra habilidade, destreza, estudo, técnica e uma dose de sadismo. E o melhor, tudo isso sem ter que finalizar em gol (ou caçapa, nesse caso). Chutar em gol é uma tortura.
Quando era pequeno e jogava no gol do futebol de salão, sempre sonhava acordado com o título do colégio que dependeria dos meus pés no último segundo. A imagem era sempre a mesma: jogo empatado, vantagem do adversário, escanteio para o nosso time cortado pelo rival. A bola sobrava linda, meia altura e pronta para ser chutada de primeira por mim, que era o goleiro avançado naquela ocasião. PÁ! Impiedosamente na trave. Apito. Final de jogo.
Aquele “quase” era tão suficiente e emocionante para mim, que eu não dominava a minha própria cabeça para me levar a outro final. A empolgação com que as pessoas contariam essa história seria semelhante à de um título. Não me pergunte porque era assim, apenas era.
Em um chute bem dado, a trave é o golpe de sorte. O último recurso de um adversário impotente que é salvo pelo acaso e não pela competência. No futebol de mesa não é assim e por essas e outras que eu repito: chutar em gol é uma tortura.
Durante o jogo, o meu chute não será o final, mas sim, a última tentativa entre as outras 8/9 anteriores. A trave não é o golpe de sorte do impotente defensor, mas a total incompetência do atacante.
Chutar em gol é uma tortura.
Luiz Oliveira é jogador de 12 toques e membro da diretoria do TMJ/SP. É designer, trabalha com tecnologia e se empolga com facilidade ao ver estratégias bem feitas e análises de dados. Palmeirense desde sempre, professor universitário durante 7 anos, baixista e dj por diversão, além de ser um eterno estudante que está sempre atrás de algo novo para se aprofundar..
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