Painel do Mundo
Por Paulo Roberto Souza (26/07/2021)
“Eu sou da América do Sul
Eu sei, vocês não vão saber
Mas agora sou cowboy
Sou do ouro, eu sou vocês
Sou do mundo, sou Minas Gerais”
A canção “Para Lennon e McCartney”, tão majestosamente interpretada pelo gênio Milton Nascimento no disco “Milton”, de 1970, fala de uma forma que podemos sentir a força da natureza que são Minas Gerais e seu povo. No Futebol de Mesa Brasileiro, esse Estado tão tradicional é forte e contundente como a letra escrita por Lô Borges, Márcio Borges e Fernando Brandt, sendo hegemônico nas competições nacionais e, consequentemente, o Estado com maior número de títulos individuais e por equipes da modalidade 3 toques, com um total de 28 títulos nacionais individuais e 23 títulos nacionais por equipes, divididos da seguinte forma: 5 títulos de Copas do Brasil individuais, em 9 edições; 5 títulos de Copas do Brasil por equipes, em 10 edições; 23 títulos brasileiros individuais, em 32 edições; 18 títulos brasileiros por equipes, em 39 edições.
Na cultura digital contemporânea, um dos elementos que mais se destaca é o meme e o que melhor representaria a curiosidade a respeito de tamanho domínio seria “quem são, onde vivem, do que se alimentam, para serem os melhores na modalidade 3 toques?”, com certeza, nada melhor para tentar descobrir o segredo dessa “mineirada de ouro” que perguntando para eles sobre a evolução da modalidade no Estado.
A regra 3 toques chegou em Minas no inicio dos anos 80, quando Gilson Nogueira, até então botonista amador, entrou em contato com botonistas do Rio de janeiro e de Brasília, querendo uma orientação de como iniciar na modalidade.
Em BH, a regra chegou em 1981 e teve início com uma reportagem na revista Placar, desse mesmo ano, anunciando o Campeonato Brasileiro de Futebol de Mesa, o que incentivou Benjamim Abaliac, um dos fundadores da equipe do Grêmio Mineiro a ligar para o Sérgio Netto pedindo explicações sobre a regra. Com posse das informações, montou uma mesa, fez uma matéria, publicada no Estado de Minas, em novembro de 1981, convocando as pessoas para jogar botão. No mesmo dia da publicação, apareceram alguns botonistas, entre eles o Josué que já conhecia a regra e foi o primeiro professor, assim nascia o futebol de mesa na capital.
Em conversa com Vander Felipe, botonista do Grêmio Mineiro, duas vezes campeão brasileiro individual e quatro vezes campeão brasileiro por equipes, perguntei o motivo do futebol de mesa mineiro dominar o cenário nacional na modalidade 3 toques. Vander citou dois motivos: “O primeiro é o dom e o segundo é a persistência, ninguém se torna um grande botonista se não tiver aptidão, mas para aqueles que têm menos talento, a perseverança e os treinamentos são primordiais.”
Outro ponto citado por Vander para explicar a construção dessa hegemonia foi que os botonistas de Minas começaram muito jovens e na época podiam se dedicar aos treinamentos, enquanto os botonistas do Rio e Brasília já eram adultos, com seus trabalhos, filhos e responsabilidades e como ele disse anteriormente, o treinamento leva a grandes conquistas.
Na opinião do botonista do Tupi, Marcus Motta, que tem no currículo 5 títulos nacionais individuais e 13 títulos nacionais por equipes, o grande número de botonistas de alto nível faz com que todos cresçam, existindo uma preocupação com a formação de novos botonistas por intermédio dos treinos. Marcus resume em uma frase o pensamento: “Temos botonistas que se preocupam em ensinar e não somente golear.”
E para fechar essa trindade do três toques mineiro, o campeoníssimo botonista do Liberdade, Lorival Ribeiro, que tem 8 títulos brasileiros individuais, 1 Copa do Brasil individual, 3 títulos brasileiros por equipes e 2 Copas do Brasil por equipes, fala que conheceu a regra com 11 anos de idade, em 1983, por meio de uma matéria sobre o título brasileiro de Benjamin Abaliac, vários garotos, então, começaram a treinar e aprenderam com o campeão brasileiro.
Nessa mesma época, em Juiz de Fora, com o professor Manoel, da tradicional Academia, começou a surgir outro grande polo, fazendo com que todos crescessem juntos. O fato de muitos dos talentosos botonistas mineiros terem iniciado na três toques ainda crianças é um diferencial na opinião de Lorival Ribeiro, pois sua vida era jogar botão quando garoto e se tivesse 10 minutos de chance para jogar, estaria jogando botão, enfrentando chuva e barro para chegar aonde havia recursos para poder jogar e tudo isso pelo que passou como botonista é uma época da vida da qual o maior campeão brasileiro Individual tem muitas saudades.
O relato desse “Clube da Esquina” do futebol de mesa mineiro me faz lembrar a canção “Nos Bailes da Vida”, quando Milton diz: “Com a roupa encharcada e a alma repleta de chão, todo artista tem de ir aonde o povo está, se foi assim, assim será”. Creio que essa hegemonia do futebol de mesa mineiro na modalidade 3 toques tende a permanecer por um bom tempo, pois os botonistas da Terra das Alterosas têm o dom e a persistência que os tornam o que são no cenário nacional e por muito tempo vão continuar podendo bater no peito, falar em alto e bom som que “são do ouro, são Minas Gerais”.
Paulo Roberto de Freitas Souza é pedagogo e botonista do estado do Amazonas - atualmente representando o Manaus FC - e um dos administradores do Fórum Mundo Botonista no Whatsapp. O manauara é praticante das modalidades 12 Toques, 3 Toques e Dadinho, tendo sido inclusive dirigente na Federação Amazonense de Futebol de Mesa. Atualmente, Paulo ocupa uma função estratégica como diretor de Comunicação da Confederação Brasileira da modalidade 3 toques.
....................................
paulo_souza@mundobotonista.com.br
(092) 9163-2106