Que saudade da época que tomávamos banhos de chuva sem ninguém dizer que ficaríamos resfriados... Que saudade do sorvete de nata do seu Darci... O sorvete de nata do seu Darci era uma espécie de “Pelé” dos sorvetes. Até hoje nenhuma das marcas mais renomadas que vemos por aí conseguiu chegar aos pés daquele sorvete. Nenhuma.
Que saudade daquelas andadas de bicicleta da pré-adolescência, quando pedalávamos em zigue-zague nas subidas para cansar menos, usando estratégia e criatividade com total inocência.
Saudade, também, das tabelas dos campeonatos que fazíamos à mão, nos cadernos pequenos, às vezes até nos de caligrafia. Confesso que fico feliz – e com uma pontinha de inveja – quando vejo botonistas postando em grupos de Whatsapp ou redes sociais sobre seus campeonatos atuais registrados em papel e caneta. Quanta nostalgia gostosa...
Quando vejo gente postando fotos de seus cadernos antigos rabiscados com jogos lá dos anos 80 ou 90, da virada da Ferroviária contra o XV de Piracicaba, da goleada inesperada do Pinheiros do Paraná diante do Coritiba, entre outros, bate um arrependimento em mim que você não tem noção. Por que coloquei tudo aquilo fora?
Veio a juventude e ela considerou aquele material irrelevante. Porém, na idade adulta, quando nos estabilizamos, o arrependimento bate. Ele demora, trabalha de forma lenta, mas quando chega, deixa marcas. Aquilo era uma espécie de Tabelão da Placar. Era apaixonante, viciante, cada pouco eu estava lá, fuçando, virando páginas, revivendo o jogo da semana passada, o artilheiro, o goleiro menos vazado. Quem dera tê-lo comigo hoje. Quem dera...
Atualmente a turma anda com tabelas baixadas em aplicativos de celular. É prático, rápido, moderno, mas, eles que me desculpem, não é a mesma coisa. Até por que quando estamos jogando botão, é justamente isso que queremos esquecer: correria, ligeireza, tudo pra ontem. Pelo contrário, queremos relaxar, curtir esse momento de forma lenta, ignorando todo o resto.
Que bom que ainda exista quem faça a “tabela raiz”. Tiro o meu chapéu para eles, nunca deixando de reforçar que a ponta de inveja segue comigo graças ao erro que cometi em ter jogado no lixo parte dos registros da melhor época de minha vida.