Painel do Mundo
Por Márcio Bariviera (05/03/2023)
Parecia algo inacreditável, mas aquele time de futebol de mesa nunca havia perdido. Nenhum registro de derrota na história das competições em que ele havia jogado. Aproveitamento de 100%. Era um time iluminado, estilo Santos de Pelé, Real Madrid de Di Stefano e Puskas, embora esses times já haviam perdido. Mas aquele time de botão, nunca.
Ninguém ousava questionar se a estrela que realmente brilhava era do time ou do dono, pois quando o cidadão atuava com outro time, possuía um desempenho normal, com vitórias e derrotas como qualquer competidor.
Um dia, em uma competição nacional que o atleta disputou em outro estado, um senhor o abordou:
– Quanto você quer por esse time?
– Não vendo. Dinheiro algum compra meu esquadrão.
– Dinheiro algum? Você sabe quem eu sou?
– Não faço a menor ideia.
– Sou um dos maiores milionários desse país. Quinhentos mil?
– Não vendo, não insista.
– Um milhão? Transfiro agora.
– Nem por dois.
Aquela recusa incomodou o senhor milionário. Ele já havia trabalhado duro na vida, deixou o grupo de empresas nas mãos dos filhos e só queria curtir a vida. Jogar futebol de botão era uma de suas paixões. Queria ter o melhor time e tinha dinheiro para isso.
– Cinco milhões!
O rapaz resolveu fazer uma proposta para que ele desistisse e parasse de importuná-lo, já que dentro de alguns minutos iria estrear na competição.
– Vinte milhões! Ou isso, ou nada.
– Eu pago!
Diante da surpreendente concordância do senhor milionário, ele não teve outra saída a não ser cumprir com a palavra e se desfazer de seu time. Acabou desistindo da competição, pois “sentiu o baque”. Era uma Mega Sena acumulada, iria mudar a vida de toda a sua família. As fotos e os vídeos se juntariam aos troféus e medalhas e restariam ótimas lembranças do tempo mágico em que conviveu com aquele esquadrão.
– Certo, negócio fechado.
E então o encanto se perdeu. Depois da venda, o time nunca mais foi o mesmo. Aquele senhor se frustrou com o desempenho, já que acabou ganhando e perdendo jogos como qualquer mortal.
Alguns anos se passaram e, sabendo do fracasso, o ex-dono procurou o senhor milionário, fazendo uma oferta para “repatriar” seu time. Pagou um valor simbólico, já que o proprietário atual havia o guardado em sua casa, dando uma espécie de “importância zero” para algo que ele considerava um objeto sem valor.
Nas mãos de seu antigo dono, o esquadrão voltou aos bons tempos e nunca mais foi derrotado. Há quem diga que a parceria era iluminada e que de posse de outra pessoa o time jamais repetiria as atuações impecáveis. E também há quem diga que times de futebol de botão são apenas objetos sem valor. Por fim, há quem diga que é apenas “um brinquedo”...
O gaúcho de Rodeio Bonito, Marcio Bariviera é gerente administrativo do União Frederiquense, clube que disputa a Série A2 do Gauchão, além de assinar uma coluna semanal no jornal O Alto Uruguai, de Frederico Westphalen-RS. Rock e futebol de botão são duas paixões desde a infância (e se puder dar palhetadas ouvindo Led Zeppelin fica time completo).
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