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MUNDO BOTONISTA

Por Rafael Pena (01/04/2024)

Tocar o jogo ou tocar para o jogo?

Entre as modalidades reconhecidas como oficiais pela CBFM, provavelmente, a regra 3 Toques seja aquela que para se manter viva, perene e gerando frutos para o futuro exige um planejamento e execução com maiores desafios. Vale lembrar que planejamento, preparação, destreza e mira na execução são conceitos extremamente afetos e ligados à realização do jogo em si. Nas mesas, nos jogos da 3 Toques, esses temas são de extrema importância na realização de um jogo eficiente e que possa levar o botonista a um gol ou mesmo à vitória.

Por se tratar de um jogo bastante estratégico, como também de muita precisão, o botonista que palheta por palhetar geralmente não colhe os mesmos frutos do botonista que palheta para o jogo, aquele que pensa o jogo e busca se adaptar ao cenário que o adversário e a composição da mesa lhe apresentam, variando sua palhetada diante de um planejamento já traçado com inúmeras possibilidades. É importante deixar bem claro que existe um oceano dividindo os botonistas que pensam o jogo daqueles que simplesmente palhetam. Pensar o jogo, grosso modo, pode ser entendido como criar estratégias, criar atalhos, estabelecer possibilidades de pontes para o conceito final do jogo que é fazer mais gols que o adversário. 

Palhetar, num primeiro momento, pode ser encarado como o ato mais sublime e simples do nosso esporte, no entanto, se usado sem meta, sem fim planejado, pode representar uma chance para o adversário ter uma oportunidade a seu favor, visto que palhetar sem pensar pode representar uma palhetada de saída de bola mais à frente. Aí o amigo botonista que está lendo essa coluna e já ultrapassou esses parágrafos anteriores em tom de conversa com o Mestre dos Magos numa mesa de bar se pergunta: “Aonde é que esse papo quer nos levar?”

O objetivo desta crônica é fazer com que pensemos o jogo dentro e fora das mesas com o fito de que nosso gol, nossa vitória, possa ser algo além da bolinha de EVA/Feltro batendo no fundo do filó. Hoje, a regra 3 Toques provavelmente seja aquela que tem o menor número de praticantes, a que tem menos cidades onde se dediquem à sua prática, se considerarmos os cenários trazidos pelas outras regras federadas. Como antever e se preparar para os desafios de prospecção de novos centros, como se preparar para trazer novos atletas, como fazer com que botonistas de outras regras se interessem, também, pela prática da 3 Toques? Como se preparar para o enfrentamento e solução destas questões, como pensar no futuro e na manutenção da regra? São perguntas que as federações e a CBFM devam se fazer constantemente (pelo menos é o que se imagina que esteja acontecendo).

- ONDE JOGAR?

- COMO TRAZER PESSOAS PARA O MOVIMENTO?

- COMO CATIVAR AS PESSOAS A SE MANTEREM PRATICANDO?

Antes de chegarmos à pergunta primordial “onde jogar” a gente tem que pensar na questão: o que fazemos para a pessoa ter o clique da lâmpada em sua cabeça para se perguntar “onde jogar”? Hoje a divulgação na regra se resume a poucos botonistas e clubes que a promovem, dentro de suas bolhas. Pouco se vê das federações e da confederação quando se fala de futebol de mesa 3 Toques. Não se vê investimentos, muito menos em elaboração de material de divulgação dos torneios de forma institucional (fazendo um aparte aqui, a meu ver, o site da FEFUMERJ é um dos poucos que se preocupa com esse fim e o faz de forma exemplar). Estamos, por exemplo, a poucos dias do Campeonato Brasileiro Individual, que é um dos principais da regra, e pouco se lê, se vê, se ouve, sobre ele. Como poderemos chegar às pessoas que fazem a pergunta de um milhão de reais: “onde posso jogar essa regra”? Vamos fazer o campeonato nacional apenas por fazer ou fazer para que deixemos algum legado a partir dele?

Se não conseguimos nem fazer com que as pessoas reflitam sobre estes temos, como é que poderíamos pensar, num segundo passo, em tentar captar possíveis patrocinadores para os campeonatos a fim de dar melhores condições de jogo para atletas e visitantes nos eventos? A divulgação, marketing e informação, passam, também, pelo ponto de como trazer pessoas para o movimento. Uma vez que as perguntas anteriores sejam respondidas o desafio se torna mais latente. Como manter as pessoas que nos procuraram a se manterem praticando o esporte? Neste cenário, ainda que o esporte se sustente a partir de pessoas que dispõem seu tempo para algo voluntário, o certo é que não podemos simplesmente viver o hoje e esquecer do amanhã. Quem se propuser a dar parte de seu precioso tempo em prol do movimento tem que ter em tela que esse tempo deve ser muito bem empregado (ainda mais se consideramos um bem maior).

Tal como numa partida de 3 Toques, se o botonista não pensar o jogo considerando as próximas jogadas, o futuro pode ser uma amarga saída de gol ou mesmo a perda da partida. Os colegas que ocupam os cargos de direção em clubes, federações e na confederação devem ter esse entendimento, e, a meu ver, na regra que praticamos isso é muito pouco explorado. Questões que merecem reflexão: O que você pode fazer para o movimento que está ao seu alcance? O que seu clube pode fazer ao que está ao alcance dele? O que podemos fazer ou exigir das federações e confederação que estejam ao alcance delas para que possamos jogar o jogo visando seu crescimento? Não podemos jogar as peças de xadrez como se fossem de um jogo de damas simplesmente porque ocupam o mesmo tabuleiro.


Temos que pensar o jogo tal como ele nos exige. Ressalto que essa coluna não tem por escopo, nesse momento, trazer as respostas aos questionamentos acima citados. A proposta apenas é que os clubes, as federações e a CBFM, de modo geral, parem de simplesmente palhetar por palhetar o jogo, e passem a se preocupar em palhetar para o jogo - não simplesmente mover as peças por mover. A vida não nos trouxe apenas para que caminhemos por caminhar, mas para que tenhamos norte em nossa caminhada, que possamos chegar aonde miramos. Não colocamos o time na mesa apenas para deslizar botões.

Rafael Pena

Mineiro de Belzonte (Belo Horizonte para quem é de fora) Rafa Pena também é advogado, fotógrafo, pai, filho, cruzeirense de arquibancada (mas que se dá bem até com os atleticanos tanto é que se casou com uma), escoteiro, zoeiro (gosta de uma piada e uma troça), videomaker, fusqueiro e Kombeiro, participa de canais do YouTube que falam de futebol e do Cruzeiro, fã de Chaves e Star Wars, e mais um monte de coisa que ajuda a tornar a vida mais prazerosa. Joga botão desde o “estrelão” e por isso, quando conheceu a modalidade 3 toques em dezembro de 2008 e teve que batizar seu time já lançou “Estrelão da Madrugada”, homenagem à sua origem e ao Seu Madruga. Procura jogar, se divertir e manter a história e a chama do botonismo aonde passa. Mais que isso, só chamando pra prosear (se tiver café e pão de queijo, melhor ainda).

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rafael_pena@mundobotonista.com.br

(031) 9129-6475



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