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MUNDO BOTONISTA

Por Márcio Bariviera (18/07/2021)

Uma crônica de amor.

O amor de nossa vida poderia durar, mesmo, uma vida toda? Ou menos? E sendo menos, poderia ser considerado o amor de nossa vida? Complicado, né? Aliás, que caso de amor não é complicado?

 

Eu tive um Bangu de acrílico. O primeiro time que comprei, que paguei com o meu dinheiro. Antes eu ganhava os times de meus pais, mas aquele foi especial, pois foi a primeira aquisição. Lembro até da caixinha daquele Bangu.

 

Foi amor à primeira vista. Um crush de nossos tempos modernos. Um Tinder pré-histórico. Eu era entregador de jornais, meu primeiro emprego, com muito orgulho. E por falar em orgulho, nossa equipe de jornaleiros se intitulava “jornalista”. E “ai” de quem ousasse a discordar da gente. Não aceitávamos correções, até porque, em nossa bolha, estávamos corretos e fim de papo.

 

Mas voltemos ao meu Bangu. Depois da compra, da abertura da caixinha, da lenta passada de mão em cada um dos botões e do chamego de modo geral, fiquei três dias seguidos jogando com ele. De repente, puf!, perdi o encanto. Coisa de pré-adolescente? Possivelmente. Sensação esquisita, de uma hora para outra o amor platônico se esvair assim, do nada.

 

Segui jogando normalmente com meus outros times. O Bangu ficou de lado. Sensação esquisita, repito. Parecia que os outros times começaram a ter mais importância depois daquele meu caso com o Bangu. Porém, mais adiante vi que não era bem assim.

 

Mesmo que o meu Bangu estivesse ali, tão pertinho, por vezes parecíamos distantes um do outro. Era como se os outros times fossem minhas amantes e, depois das “puladas de cercas”, eu notava que o melhor mesmo era voltar para casa arrependido e abraçar a minha família, o meu Bangu.

 

O tempo passou, comprei mais times e acabei me desfazendo de outros, inclusive do Bangu. E meu castigo veio a galope. O arrependimento me atingiu em cheio. Tentei, sem sucesso, recuperá-lo. Lembro que doei alguns times, troquei outros com amigos, mas aquele Bangu jamais foi encontrado novamente.

 

Hoje, adulto, ainda sinto saudade daquele time. Aproveitamos pouquíssimo tempo juntos. Digamos que não conseguimos nos curtir como deveríamos. Fico pensando se ele foi o amor da minha vida do futebol de botão... Será que se eu o tivesse encontrado a gente teria uma relação eterna, tipo Sam e Molly em Ghost?

 

Você poderia me dizer que seria caso simples de se resolver, bastando comprar outro Bangu. Não, não teria o mesmo encanto. Iguais poderia haver muitos, mas não com aquela importância. Voltei para minhas amantes e até hoje sinto falta de quem, penso eu, amei de verdade.

O gaúcho de Rodeio Bonito, Marcio Bariviera é gerente administrativo do União Frederiquense, clube que disputa a Série A2 do Gauchão, além de assinar uma coluna semanal no jornal O Alto Uruguai, de Frederico Westphalen-RS. Rock e futebol de botão são duas paixões desde a infância (e se puder dar palhetadas ouvindo Led Zeppelin fica time completo).

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marcio_bariviera@mundobotonista.com.br
(055) 99988-6612

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