Painel do Mundo
Por Giovanni Nobile (26/09/2021)
A arte imita a vida ou a vida imita a arte?
Por Giovanni Nobile
Normalmente, o futebol de botão empresta as coisas do mundo do futebol de campo para ele. Palhetadas prestam homenagens a grandes times da história, a craques do passado ou astros atuais. Pelé, Garrincha, Zico, Sócrates, Maradona, Romário, Messi e todos os Ronaldos... todos esses já viraram botão. É normal que o brilho do futebol ilumine o futebol de botão. É dali que ele veio.
Mas quem disse que existe “normal” no nosso Mundo Botonista? Aqui, invertemos a lógica. A arte imita a vida. Mas a vida também imita a arte.
Quando recebi o convite para escrever esta coluna para o Mundo Botonista, fiquei muito feliz, afinal escrever é meu ofício, já que sou jornalista. E o futebol de mesa é uma das minhas paixões. Até tive algumas experiências em que a profissão fez cruzar as letras com o futebol de mesa, em alguns jornais e revistas, sobre os quais ainda falarei em outros textos aqui nesta coluna, com alguns bastidores interessantes. Mas agora, que recebi este convite, o sentimento foi diferente. Pela primeira vez não precisarei sair explicando a atmosfera futebol de mesa aos leitores que não o conhecem (aqui, vocês todos sabem muito mais que eu, inclusive, sobre nosso nobre esporte). Para veículos tradicionais, o botão só existe pela existência prévia do jogador de carne e osso. Agora, é diferente. Não precisarei fazer rodeios que editores sempre nos pedem para comparar o futebol de mesa atual à brincadeira de criança lá dos longínquos anos de 1970, 1980, 1990... Aqui, estamos no nosso mundo, o Botonista. Poderemos ser claros, diretos, poéticos e com piadas internas que os de outros planetas, que não o nosso, jamais entenderiam – mas nós entenderemos! Aqui, não precisaremos emprestar as referências do mundo deles para poder falar do nosso. Convite aceito na hora! Mas qual seria o nome desta coluna?
Fui buscar inspiração – talvez como muitos botonistas – na infância, quando narrava os jogos e, a cada gol, soava o grito: “tááá nooo fiiiilooooó!”. Este é o grito de gol do narrador mineiro Fernando Sasso, falecido em 2005. No entanto, não tenho esse grito dele na minha memória... Não me lembro dos gols na TV, com essa narração. O “tá no filó” é uma referência pura do botão, para mim. E vejam só, que coisa: a relação é mais íntima ainda com o botão do que com o futebol quando nos damos conta de que o filó é o tecido, o véu que cobre nossas traves do futebol de mesa. Conversando sobre este nome no canal do mundo botonista, Victor Heremann até brincou: “se olhar bem, esse Fernando Sasso jogava botão!”.
Tanto não duvido, como fui pesquisa e me deparei com um trabalho de conclusão de curso com o título “O futebol de botão e as narrações esportivas [LINK: https://www.ufjf.br/facom/files/2013/04/TSTavares.pdf]”, de Thiago Stephan Tavares, para Comunicação Social pela Universidade Federal de Juiz de Fora (que não conheço, a não ser pelo contato com este trabalho realizado por ele – que considerei muito original e relevante para o mundo das narrações esportivas e, claro, para o futebol de botão). Tavares entrevistou alguns narradores e concluiu que o futebol de botão teve grande importância para vários profissionais do rádio já que, para uns, jogar botão, na infância, já foi o exercício da profissão que grandes nomes do rádio experimentariam e fariam história.
Não sei se o narrador mineiro jogou botão (imagino que sim!). Mas uma certeza, tenho: aqui, realmente invertemos a lógica. É o futebol de botão que também dá brilho ao futebol. O futebol como conhecemos hoje, emocionante, veio também, em parte, do futebol de botão! Ouvir uma partida no rádio ou mesmo ouvir um grito de gol pela TV muitas vezes é uma sensação que foi forjada há décadas, em mesas de futebol de botão ou no assoalho de casas pelo Brasil todo. Meninos que treinaram suas narrações em partidas emocionantes hoje emprestam essa emoção do futebol de botão ao futebol por estádios ao redor do mundo.
E desta forma, tive a certeza de que este seria um bom nome para esta coluna: algo que mostra que a vida é que imita a arte. Que o futebol de botão tem seu brilho próprio, como acreditamos tanto por aqui.
Por aqui, trarei crônicas, poesias, entrevistas, bastidores de uma ou outra reportagem que já fiz... A todos os habitantes do Mundo Botonista, agradeço o espaço e espero que eu possa contribuir e alegrar o café da manhã de alguns domingos (assim como ele já é muito feliz com a coluna Botão Raiz, do colega de Mundo Botonista, Márcio Bariviera, com suas crônicas lindas). Como escritor-jogador, tenho que dizer que chego para somar, fazer o que o professor pediu, colocar em prática aquilo que a gente sabe, graças a Deus, e garantir os três pontos, pra essa nossa imensa torcida. Enfim, espero contribuir.
Assim, hoje eu começo, aqui, abrindo o placar na coluna: “Tá no filó!”.
Giovanni Nobile é jornalista e fundador do Águia Branca Futebol de Mesa (time que nasceu nas quadras de futsal em Santo Antônio da Platina, no Paraná, fez um jogo em 1997, ganhou, e se orgulha de ser o time há mais tempo invicto no mundo - tudo bem que nunca mais jogou, mas essa é outra história). Seu melhor resultado nas mesas foi um vice-campeonato de etapa na série extra da Liga União, cuja medalhinha tem guardada até hoje. Há mais de 10 anos, vive em Brasília. Por aqui, traz crônicas aos domingos sobre o nosso Mundo Botonista.
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