Painel do Mundo
Por Sergio Travassos (26/06/2023)
A perpetuação de algo advém, sobretudo, da atitude que os adultos têm diante de um interesse comum. Nisso, há vital importância em como é transmitido o conhecimento. No nosso caso, em como passamos adiante o amor à modalidade 1t para as crianças e os adolescentes. Nesse ponto, distantes dos holofotes, câmeras, pódios e, portanto, longe dos aplausos da nossa comunidade, encontram-se os invisíveis abnegados que, cada um à sua maneira, proliferam o nosso jogo.
Então, resolvi lançar aplausos simbólicos aos nossos admiráveis invisíveis. São eles que, na minha humilde visão e sem desejar tirar o mérito dos campeões ou finalistas que acumulam troféus e medalhas, realmente fazem a nossa pesada roda girar. Mantêm acessa a centelha da modalidade à qual nos dedicamos. Felizmente, há alguns desses bravos missionários que, hoje, têm recebido as ainda parcas homenagens. E se o reconhecimento é pouco, o apoio é ínfimo perto do trabalho empenho pelos invisíveis.
O município de Acari, interior do Rio Grande do Norte (217km de Natal), é a cidade mais limpa do Brasil, porém, com certeza, só é conhecida da maioria por causa do futebol de mesa. Por trás disso, há o poeta e disciplinador Almir Campos.
O Estado nordestino vibra com cada safra de novos botonistas da “fazenda” acariense. São jovens que têm a oportunidade de virarem verdadeiros atletas. Treinam, ocupam-se, e viajam o Brasil, levando o nome de sua cidade e encantando a todos com a esperança de renovação.
Recentemente, Almir Campos recebeu a homenagem na Câmara Municipal. Um gesto que revela a importância dele para a sua comunidade, mesmo não estando mais è frente do projeto. Mas é uma homenagem que sempre deveria ser seguida de mais apoio.
Outro que lembro e que, infelizmente, ainda não recebeu o reconhecimento e uma corrente maior de força braçal, é o estimado Diógenes Medeiros, criador e investidor da TV Palheta, que serve de inspiração para outros botonistas que buscam aumentar a visibilidade do desporto.
Com a TV, um canal no YouTube e no Facebook, eles inspirou a melhoria da qualidade do espaço de jogo e a divulgação, bem como as transmissões do nosso jogo. E foi além: criou a Escola Técnica de Futebol de Mesa. Algo que muitos praticantes não compreendem a força dessa ideia.
Em Pernambuco, tradicional terra da modalidade, muito tenta-se divulgar e fomentar o desporto. Eu mesmo pelejei bastante na tentativa de propagar nas escolas ou na imprensa o jogo que amo – sempre com a colaboração e parceria do atleta do Santa Cruz Dilton Monteiro. Porém, apesar de ter sido goleiro por longa data, utilizo esse espaço para aplaudir o querido goleiro que todos amam: Nilo Tadeu. Se você nunca ouviu falar dele, corra atrás de informações, pois você está perdendo.
Ele foi o pernambucano que, nos anos 80, chegou a uma final nacional individual sem ter sido vazado nas mesas. Perdendo o vil metal dourado, nas penalidades. Duas vezes campeão Estadual, afastou-se por longa data, voltando às mesas com a qualidade de sempre e com a visão bem mais apurada, trazida pela maturidade.
Ele é grande em ética, carinho e também em tamanho. Mas nenhuma grandeza supera a sua bondade – que o faz sofrer bastante e trocar, às vezes, os pés pelas mãos, e ao desejo de ajudar os colegas que buscam aprender ou melhorar o jogo.
Chamo-o, com admiração, de meu técnico. Mas sei que ele vem ensinando a muitos outros colegas de mesa, seja em Pernambuco, na Paraíba, Alagoas, Sergipe. Ele está sempre pronto para incentivar, testar e treinar os colegas. Quem teve a honra de dividir a mesa com ele, sabe do que estou escrevendo. Muitos têm melhorado a olhos vistos por causa dos seus ensinamentos. E eu tenho a felicidade de ter melhorado bastante com ele. Como não aplaudi-lo?
Saindo do calor do Nordeste, lembro de um ótimo projeto que está sendo desenvolvido em um dos rincões mais tradicionais da 1t: o Rio Grande do Sul. Lá, a AFM Caxias sempre buscou integrar-se à comunidade e, assim, levar o futebol de mesa às escolas e faculdades. Formaram e formam um bom número de jogadores. Felizmente, lá, há o aplauso e o apoio. Como deve ser.
Então, destaco o trabalho liderado pelo professor do Futmesa São Carlos Edvarde Rocha. De Santa Vitória do Palmar (504km da capital), ele também realiza um trabalho de levar o jogo de botão aos guris, em Barra do Chuí (528,5km de Porto Alegre), fronteira com o Uruguai.
O trabalho merece aplausos efusivos. Hoje, são mais de 60 crianças , sendo quase metade de meninas, atendidas e que já disputam as competições federadas. Algumas com conquistas importantes, como a pequenina Dora Marcowich Rocha – filha do Edvardes. Ela levantou a Copa do Brasil de cavado, disputada há pouco tempo.
O "Pequeno fenômeno" Dora Marcowich Rocha, campeã Brasileira da Copa do Brasil 1 toque (cavado) aos 9 anos
O professor Edvardes conta com o apoio dos botonistas Alexander Donato, Luiz Fernando Rodrigues e Eduardo Souza.
O projeto surgiu em 2017, quando coordenadoras de uma das escolas pediram um projeto para ser trabalhado no turno extra. Ele pegou a oportunidade e aproveitou. Hoje, a prefeitura de Barra do Chuí aluga um espaço para desenvolvimentores do futebol de mesa, e também do tênis de mesa.
No São Carlos, utilizam o teatro para desenvolver o projeto. E, pasmem, tem que montar e desmontar as mesas nos dias de treinamentos ou jogos. Vejam que trabalho. Muitos dos praticantes, Brasil afora, correm do trabalho de carregar e armar campos em uma competição, sequer. Imaginam como é fazer isso, semanalmente? Tem que ser aplaudido de pé.
Espero que haja mais e mais abnegados com projetos desse tipo. E que gostaria de conhecê-los. Os invisíveis são um dos pilares do nosso 1t. Que todos os praticantes possam perceber e valorizar mais esses abnegados para que possamos aplaudir mais a eles do que aplaudidos um campeão de torneio. Apoiemos eles, já!
Sergio Travassos é diretor do Santa Cruz F.C. há doze anos, jornalista com outras duas formações, Educação Física e Marketing, que atua há muito tempo em prol do desporto pernambucano. Tendo passagens pela Federação Pernambucana e CBFM. Sendo uma das figuras que mais defende o jogo de futebol de mesa, independente da regra de atuação, bem como que as competições sejam feitas em locais públicos, visando atrair mais visibilidade para o futmesa.
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