É inevitável, sempre que vou visitar minha mãe, olhar aquele bonito e lustroso assoalho de madeira e não voltar pelo menos três décadas no tempo. I-NE-VI-TÁ-VEL. É um saudosismo que poucos têm noção. A turma das antigas sabe o que estou querendo dizer.
Quando estou lá, por vezes me pego olhando para o chão e viajando no tempo, ficando com a sensação de que todo o meu entorno estaciona. Já teve oportunidade em que minha mãe perguntou o que eu tinha que estava cabisbaixo. Eu explicava e ela ria.
O assoalho da casa da minha mãe é mais ou menos como falar do estádio Azteca e lembrar de Pelé e a Seleção de 70. É como um uruguaio olhar para o Maracanã e lembrar de Ghiggia. Uma espécie de “estádio raiz para momentos raiz” do bom, velho e inesquecível futebol de botão de nossa infância.
As mesas oficiais de hoje são absurdamente lindas. Volta e meia vejo o pessoal postando fotos em grupos de WhatsApp quando estão jogando e me encanto. As mesas da atualidade são perfeitas, passiveis de ficar apenas apreciando-as. Sério, por vezes dá até vontade de não jogar para deixá-las intactas.
Em comparação ao futebol, as lindas e modernas mesas de hoje poderiam ser consideradas as chamadas arenas. Entretanto, volto ao assoalho da sala de minha mãe e sobreponho tudo isso pensando que lá era o Maracanã do Zico, o Olímpico do Grêmio, o Morumbi que era sede de jogos não apenas do São Paulo, mas do Palmeiras e do Corinthians...
Nas arenas modernas de hoje é praticamente nulo enxergar o montinho artilheiro. Mas no assoalho da sala de minha mãe havia vários. E eu sabia onde estavam todos, um por um. Assim como eram os campos de jogo de duas ou três décadas atrás.
É bacana quando a modernidade vem e, na carona, traz consigo a melhoria das coisas. Seja no futebol de verdade, no futebol de botão, na nossa vida em geral. Mas é bacana, também, chegar na casa da tua mãe trinta e poucos anos depois e reconhecer os montinhos artilheiros do assoalho da sala. Isso eu garanto e encho a boca para dizer: não tem preço!