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MUNDO BOTONISTA

Por Alex Monteiro (14/07/2021)

 Johan Cruyff

"Eu não sabia nada sobre futebol antes de conhecer Johan Cruyff.”


Essa frase, dita por Pep Guardiola, sintetiza o sentimento de todos que leem a biografia de Cruyff, inclusive o meu. Por isso, logo após finalizar a minha leitura, nesse último final de semana, resolvi não escrever uma resenha ou dar spoilers na coluna, mas deixar como dica esse valioso livro.


Quem me conhece sabe que detesto criar rankings de Top 5, Top 10, etc., participar de bolões, adivinhar placar de jogo, mas esse livro entrou no meu Top 3 de livros sobre futebol, junto com o romance “O Drible”, de Sérgio Rodrigues e “Estrela Solitária”, de Ruy Castro, que conta detalhadamente a vida de Garrincha.

“O bom jogador é aquele que toca a bola apenas uma vez e sabe para onde correr, e isso é o futebol holandês. Sempre disse que o futebol deveria ser jogado com a beleza e o foco no ataque. Deve ser um espetáculo. No Ajax, o que nós amávamosera a parte técnica e tática. Todo técnico fala sobre se movimentar em campo, sobre correr bastante e dar duro em campo. Já eu digo: não corra tanto. Futebol é um jogo para ser jogado com o cérebro. Você tem que estar no lugar certo na hora certa, não pode chegar nem muito cedo nem muito tarde.”

Conheci Cruyff quando moleque, ouvia falar sobre a famosa Laranja Mecânica de 74, depois, do primeiro “Dream Team” do Barcelona, mas jamais havia tido um contato tão rico quanto ao ler sua biografia. Publicada no Brasil pela Editora Grande Área em 2020, o título original “My Turn” (em referência ao seu famoso drible) foi originalmente lançado em 2016, ano de sua morte.


O livro navega por toda a sua vida, desde a infância humilde jogando peladas nas ruas de Amsterdã, seu amor pelo Ajax, os grandes treinadores e companheiros de time, conflitos e toda sua carreira, transformando o Ajax em uma grande potência na Europa, transferindo-se para o Barcelona por um valor recorde e colocando o clube catalão no topo do futebol espanhol, até a Copa do Mundo de 1974, quando a Holanda eliminaria o Brasil e perderia a final para a Alemanha.

Mas, além de sua vida pessoal, o que mais me encantou foi a construção do conceito “Futebol Total”, iniciado pela Holanda de Rinus Michel, que vemos até hoje sua aplicação e evolução nos gramados. É uma aula de futebol.

“De 1968 em diante, as coisas que aprendi com Michels foram deixando uma marca indelével na forma como eu entendia o jogo. Como a crença de que defender é quest{ao de dar o menor tempo possível ao seu oponente; ou a de que, se você tiver a posse de bola, precisa garantir o maior espaço possível; além de que, quando você perde a bola, deve minimizar o espaço do seu rival. De fato, tudo no futebol é uma questão de distância. E, claro, existem 10 mil horas de treinamento gastas.”

Cruyff descreve sua visão sobre o jogo, seus conceitos, seu amor ao futebol e a torcida, a paixão pelo Ajax e a gratidão ao Barcelona.  No livro, Cruyff nos faz termos saudades dos tempos românticos do passado. Fala também, de forma muito sábia, sobre todos os conflitos com dirigentes, ainda critica as mudanças recentes que vêm transformando o mundo do futebol em mundo dos negócios. Ele, com seu estilo, foi capaz de mudar o jogo e influenciar o mundo.

“Sinto esperança pelo futuro do futebol, embora ache que ainda haverá um período de caos conisderável. Quem manda, por enquanto, é o dinheiro - e isso está ainda mais óbvio na Inglaterra. O dinheiro faz parte do negócio e é bom, mas tudo tem seu lugar. Nesse sentido, não são os futebolistas ou o dinheiro que causam os problemas, e sim diretores que não deixam o lado esportivo seguir seu rumo. Pegue o desenvolvimento dos talentos nativos da Inglaterra, que, por sua vez, influenciam a seleçã nacional. É um risco ter muitos jogadores estrangeiros jogando na Campions League.”

Enfim, não quero me estender, apenas gostaria de deixar essa dica, esperei quase um ano para lê-lo em português e devorei em pouco mais de uma semana. O melhor resumo para Johan está no diagrama abaixo. Um grande jogador, grande técnico e grande filósofo.

Um grande abraço! Nos reencontraremos em duas semanas. Tocando e puxando a corda!

Alex Monteiro é um carioca radicado nos Estados Unidos, profissional do mercado financeiro e absolutamente apaixonado pelas coisas do futebol - dentre as quais, naturalmente, está o futebol de botão. Entre tantos episódios deste amor muito bem correspondido, em 2019 fundou em New York, ao lado do amigo Luis Castello, a Play Button Soccer, que organiza torneios de futebol de botão nos EUA e oferece suporte aos adeptos que queiram praticar o esporte na terra do Tio Sam. 
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