Painel do Mundo
La Garra Charrúa de los Botones.
Mesmo vivendo em países diferentes nossas histórias de vida, quando relacionadas ao futebol profissional e ao futebol com botões, é muito parecida. O lúdico, o transporte dos craques dos gramados para a mesa de madeira é, certamente, o ponto comum entre todos que praticamos as diferentes modalidades desse apaixonante esporte, independentemente do nível de organização envolvido, da idade do jogador e do local do mundo onde vivemos. O futebol é uma das grandes paixões dos uruguaios, senão a maior e, como não poderia deixar de ser, da mesma maneira que nós, eles levam para as mesas toda a emoção “de las canchas” para a mesa de jogo.
Dentro desse contexto, me transporto à cidade de Salto, segunda maior cidade do país vizinho e berço de importantes futebolistas como Leandro Andrade (campeão olímpico em 1924 e 1928 e mundial em 1930), Pedro Rocha (jogador ícone no Peñarol e São Paulo), Luiz Suárez e Edison Cavani. Lá o futebol com botões chegou em meados da década de 60 pelas mãos de un professor de educação física brasileiro.
Entretanto, o que seria do mundo se tudo fosse padronizado, homogeneizado? Os uruguaios de Salto, a exemplo dos vizinhos gaúchos, jogam sempre com “um toque” e os jogadores, incluindo o goleiro somente podem ser botões de roupa, que são limados, polidos e decorados para serem transformados em verdadeiros atletas. Os uruguaios de Salto não aceitam a ideia de jogar com 10 botões e um prisma que usamos como goleiro. Não lhes parece lógico e nunca tentaram adotar essa opção. Os plantéis das equipes têm, geralmente, em torno de 18 ou 20 jogadores com características bem diferentes de altura e bainha que é, segundo eles, o mais importante de para manter a ideia de jogar com “verdadeiros botões”.
O grupo que ainda joga é pequeno. São cerca de oito abnegados que insistem na prática do esporte. Como aqui, enfrentam o grave problema da renovação. “El Clásico Salteño” se dá entre os primos, experientes jogadores e quase sessentões, Bernabé (Jimmy) Pagani e Roberto Fioritti. Pagani é um professor universitário de sociologia e, em suas aulas, se define como “botonista”, um conceito difícil para seus jovens alunos, mas que ele, certamente, tem “mucho gusto” em explicar.
O futebol de mesa chegou a Montevidéu por outro caminho, mas também através das mãos de brasileiros. Tudo começou em 2008, quando a Federação Paulista de Futebol de Mesa (FPFM) estava organizando um Campeonato Sul-Americano surgiu o interesse em Miguel Ángel Romero (El Lobo) em participar de forma individual na citada competição. Apesar de ter desistido da ideia, ele manteve com a Federação Paulista e, nesse mesmo ano, um representante da entidade foi ao Uruguai. Esse foi o fato fundador do futmesa na capital uruguaia. Inicialmente o jogo era encarado como uma atividade social e um motivo para juntar os amigos em torno da mesa de botão. A chegada de Martín García deu um novo impulso ao grupo que atualmente conta com quinze jogadores.
A modalidade praticada é a Bola 12 Toques, com algumas pequenas adaptações. Os uruguaios de Montevidéu deixaram de utilizar as bolas de feltro e passamos a utilizar as bolas de Espuma Vinílica Acetinada (EVA) devido à dificuldade de encontrar as primeiras. Em relação ao material de jogo, embora ainda utilizem os botões originais que comprados em 2008, quando da visita do representante da FPFM, conseguiram fazer nossos próprios “botões”, respeitando ao pé da letra as medidas do material original.
Quem sabe um dia não teremos uma final de um campeonato mundial de futebol de mesa em Montevidéu e poderemos, finalmente, vingar-nos, pelo menos um pouco, de 1950? Entretanto, temos que estar atentos à famosa “garra charrúa" dos uruguaios, que é um estado de espírito que mistura coragem, força, orgulho guerreiro e obstinação, miticamente herdado dos indígenas locais. Todo cuidado é pouco.
Contatos:
Salto:
Jimmy Pagani +598098719446
https://www.facebook.com/botones.demesa
Montevidéu:
Miguel Ángel Romero (mromero@ancap.com.uy)
https://www.facebook.com/profile.php?id=100011292330884
Formado em Agronomia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, José Carlos Marques Cavalheiro, nasceu na capital carioca no ano de 1962. Foi atleta de futebol de mesa na modalidade Bola 12 Toques de 1998 a 2005, quando foi viver em diferentes lugares: São Paulo, Paris, Jundiaí e Bogotá, onde atualmente reside. É o responsável pelo site da FEFUMERJ desde dezembro de 2004. Atualmente exerce o cargo de Diretor de Comunicação da entidade.
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