Recentemente reativei o botonismo e fui catar meus Gullivers guardados – e bem conservados – com muito carinho. Estavam lá, em estado de novos, me esperando de braços abertos, como um filho aguardando o pai na saída da escola para rumarem à sorveteria.
Dei uma boa repaginada neles. Limpei os escudinhos antigos, adquiri vários novos, adesivei e, voilà!, meus times modernizados na versão 2020. Abrindo um parêntese: não sei quanto a você, mas se existe algo que para mim faz o estresse “vazar” é adesivar times de botão. Compro sempre os botões lisos e com os escudos nas cartelas. Adesivagem é comigo.
Comentei sobre meu retorno ao futebol de botão com um amigo de infância que jogava comigo na época e acabei atiçando nele a vontade de retornar. Ele também tinha seus times guardados e, assim como os meus, eram todos Gulliver.
Porém, pesquisa pra lá, pesquisa pra cá, ele preferiu mudar sua coleção e partiu para as vidrilhas. Comprou centenas delas, tintas das mais diversas cores e um cortador para que seus escudos não virassem gambiarra. Então, fiz a proposta para que ele me vendesse seus Gullivers e, assim, pudesse investir não apenas na atualização de sua coleção, mas em todo o material necessário para tal.
Fechado o negócio, pedi para que ele me enviasse os times – eram 14 no total – via ônibus, pois não moramos mais na mesma cidade. Assim chegaria mais rápido do que pelos Correios e eu conseguiria agilizar minha repaginada aqui. E foi o que ele fez. Colocou o material numa caixinha e mandou pelo motorista, seu conhecido, escapando de pagar frete. Amizade é tudo, não é mesmo?
No dia seguinte fui na rodoviária aguardar o ônibus e pegar a caixa. Mesmo sabendo que normalmente os “busões” atrasam, desloquei-me com meia hora de antecedência. Senti-me voltando à infância, tamanha ansiedade para colocar as mãos nos meus meninos.
O ônibus mais esperado de 2020 chegou na rodoviária às 23h39 de uma noite de sexta-feira (não, eu não estava no barzinho tomando chope) e fui de encontro ao motorista antes mesmo de ele descer para abrir o porta-malas e descarregar os pertences dos passageiros. Ao questioná-lo da encomenda, eis que ele agride não apenas os meus ouvidos, mas meu coração com a resposta: “ah, os brinquedinhos? Estão aqui, sim”.
Puxa vida... Será que ele pensou que eram bonequinhos Playmobil? Humpf! Talvez seu conhecimento pela causa seja zero e por isso o perdoei. Mal sabe ele sobre a importância “dos brinquedinhos” na vida de um botonista, do sentimento que envolve tudo isso, de campeonatos, federações, eventos, mercado e o escambau que tem o futebol de botão.
Enfim, volto a dizer, te perdoo, amigo motorista, mas que fique bem claro: não é um brinquedinho coisa nenhuma, beleza? E estamos conversados!