Painel do Mundo
Por Márcio Bariviera (10/10/2021)
Eu não gostava quando minha mãe se reportava ao meu Xalingão como um simples quadro. Tá bom, verde, retangular, material parecido com a lousa da escola. Mas não era.
Puxa vida, mãe, meu campo tinha vida! Não apenas tinha história, mas parte importante da minha história, tanto que conto elas até hoje. Ele pulsava, transpirava, inspirava, tornava meus dias melhores. De forma alguma ele poderia ser tratado ou tachado como um quadro qualquer.
De tanto que “surrei” meu campo, acabei ganhando um Xalingão mais novo. Por uma pequena época fiquei com dois estádios. E aí precisei usar a criatividade para não deixar meu parceiro de todas as horas esquecido ou escorado em uma parede.
Nos dias de chuva eu jogava apenas nele. Sem saber que estava danificando o meu melhor amigo, molhava-o para deixar o ambiente igual estava lá fora, através da janela. E jogava com o campo pesado, jogadores “travando” a cada palhetada. E aquilo era divertido, ah, como era!
E a lógica prevaleceu. De tanto molhar meu campo, ele começou a descascar e o até então tapete verde de outrora deu lugar a muitos espaços pipocados de marrom. Mas, fiel ao que ocorria lá fora, continuei jogando até que pude no meu campo embarreado. Até que chegou o dia de “desligar os aparelhos”.
Acabei me desfazendo de meu quase irmão, companheiro de tantas jornadas, de embates antológicos, de parte da vida cheia de emoções que eu tinha enquanto eu estava com ele. Foi triste e, acredite, até hoje sinto que não superei aquela separação.
No jogo de despedida, duas seleções estilo Resto do Mundo deram o brilho final. Era justo que Maradona, Zico, Platini, Dassaev e companhia estivessem atuando. Campo no chão e eu ajoelhado, ao mesmo tempo jogando e o reverenciando. O placar? Empate. Aquele era um momento em que ninguém poderia perder…
O gaúcho de Rodeio Bonito, Marcio Bariviera é gerente administrativo do União Frederiquense, clube que disputa a Série A2 do Gauchão, além de assinar uma coluna semanal no jornal O Alto Uruguai, de Frederico Westphalen-RS. Rock e futebol de botão são duas paixões desde a infância (e se puder dar palhetadas ouvindo Led Zeppelin fica time completo).
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