1989... ano de política. Eleições diretas no Brasil, finalmente. Fui posar na casa de um amigo, o Joce, já que no dia seguinte teríamos jogos escolares. Concentração, diriam os boleiros de hoje em dia.
Logicamente que antes de irmos dormir o futebol de botão correu solto. Até por que estava tudo combinado: jantar, jogar botão e depois, somente depois, descansar para os jogos escolares.
O Joce ainda não tinha o seu campo de botão. Os duelos eram no chão da sala mesmo, onde, cabe registrar, era muito gostoso de jogar. Entre o sofá e a estante da TV, o nosso estádio. No sofá, o seu Mário, pai dele, assistindo o debate do primeiro turno.
O seu Mário era brizolista até debaixo d’água. Defendia o Brizola como colorados defendem o D’Alessandro ou gremistas defendem o Renato. Enquanto ele tomava a sua cerveja e muitas vezes nem piscava, a gente jogava e tagarelava logo ali, abaixo dele.
“Toma!”, era sua expressão cada vez que Brizola respondia o Lula, o Collor, o Enéas e o Ulysses. “Canalha, sem vergonha” era a contrapartida quando alguém atacava o Brizola.
E a gente seguia jogando... Quando o Brizola estava sendo protagonista da pergunta ou da resposta, nem respirávamos. Silêncio total. Se saísse gol naquele momento, seria como Zico fazer gol contra o Flamengo e não comemorar. Entretanto, nossa mini balbúrdia era liberada nas outras vezes. Se Maluf e Afif ou Ronaldo Caiado e Mário Covas, seu xará, estivessem no mano a mano, barulho liberado. Brizola na área, respeito total.
Até que, lá pelas tantas, ele resolve pedir quanto estava o nosso jogo. Honestamente não lembro do placar, mas lembro da cena. Quando o Joce foi responder, imediatamente ele saltou do sofá, esticou o braço e disparou: “espera que vai ter a tréplica do Brizola”.
Seu Mário já nos deixou, infelizmente... Éramos crianças e jamais irei lembrar de qual foi a pergunta, a resposta e a réplica entre Brizola e, se não me engano, Maluf. O que lembro, entretanto, é que após a tréplica do Brizola, seu Mário sorriu todo contente e disparou: “esse cara é um gênio!”. Grande, seu Mário!