O pai do Lucas sempre foi um apaixonado pelo futebol de botão. Ou de mesa. Ou na denominação que você achar melhor.
De tão comprometido que era pelo hobby, ou esporte, ou na denominação que você achar melhor, ele criou um clube. Fez crianças não apenas gostarem daquilo, mas se apaixonar, tal qual ele se apaixonara. Inclusive o Lucas, eu e vários de nossa turma.
O clube cresceu e a cada dia mais garotos aderiam. Começaram a nos chamar de botonistas. Lembro que cheguei em casa de peito estufado dizendo para minha avó que a partir daquele dia eu era um botonista. Confesso que me frustrei quando ela me perguntou o que significava “botonista”, mas tirei de letra: era como chamar um adulto de médico, respondi.
O pai do Lucas participava de uma equipe federada, a qual fora criada na empresa onde ele trabalhava. Lá não era só trabalho, Muricy! O pessoal se divertia, também. Então, aos poucos, a gente começou a frequentar aquele ambiente.
Lucas e eu éramos os mais ousados da garotada e arriscamos a disputar campeonatos internos, enfrentando a turma adulta de seu pai e colegas. Ambos com 11 anos, Lucas e eu acabamos sendo ao natural os sacos de pancadas.
Lembro de um campeonato onde Lucas e seu pai se enfrentaram na última rodada da primeira fase, sendo que seu pai precisava da vitória para avançar aos mata-matas. E, coincidências da vida, a rodada que definiria a classificação era justamente no aniversário de 35 anos do “velho”.
Estava tudo programado: era jogar e correr para a casa deles, onde familiares e amigos iriam confraternizar e comemorar mais uma primavera do patrão. Lógico, eu estaria lá, junto, para comer, beber e depois dar umas palhetadas com o Lucas.
Mas voltemos ao “clássico”. Seu pai nos instigava a sermos competitivos. Eu até não dava tanta bola para isso, mas o Lucas mergulhava a fundo quanto à questão, jogando contra ele ou diante de qualquer outro adversário como se fosse final de Copa do Mundo. Sobre o jogo, placar de 4 a 4 e o seu “velho” foi eliminado da competição.
Como Lucas e eu não desgrudávamos, voltei de carona com eles, até por que iríamos direto para o aniversário de seu pai. Parece que vejo até hoje o Lucas chorando dentro do carro, com ar de arrependimento, por ter eliminado seu pai de uma competição justamente no dia de seu aniversário. Um presente de grego, digamos assim.
Hoje, pensando como adulto, não apenas eu, mas o Lucas, temos a certeza de que seu pai havia ganhado um grande presente naquele dia, pois sentiu orgulho ao confirmar que seu ensinamento para que o filho fosse competitivo no futebol de botão havia dado certo.
O inocente ganha e chora. O diferenciado perde e sorri, feliz. Não adianta, não existe herói maior do que um pai.