Recebemos uma colaboração muito interessante, em forma de questionamento, do leitor Lucas Boa Morte. Suponha que um botonista faça um pedido de chute a gol, logo a seguir toca a campainha de final de jogo. Antes da execução do chute, a bolinha se move. Três situações podem ter ocorrido: a bolinha ter se movido sem interferência dos botonistas, por exemplo em virtude de um vento qualquer, ou por interferência, mesmo que involuntária, do botonista que receberá o chute ou do que efetua o ataque. É interessante notar que essas situações não estão previstas, em uma circunstância de chute pós tempo regulamentar, no texto de regras. Cabe a aplicação do bom senso para definição da solução.
Caso 1 - Sem interferência dos botonistas: o bom senso sugere deixar a bolinha onde ficou após o deslocamento, como em um lance de jogo qualquer, ocorrido durante o tempo regulamentar, afinal nenhum dos atletas envolvidos foi responsável pelo fato.
Caso 2 - Houve interferência do defensor, o jogador que receberá o chute a gol: uma vez que se trata do último lance do jogo, a acontecer após o soar da campainha, não tendo mais como ser marcada falta contra o infrator, a lógica sugere que a bolinha seja recolocada na posição original em que se encontrava antes do deslocamento, para o desfecho da jogada. Cabe notar a possibilidade de penas disciplinares, em se tratando claramente de ato antidesportivo, por parte da comissão organizadora do evento em questão.
Caso 3 - Houve interferência do atacante, o botonista que efetuará o chute: partida encerrada sem a execução do chute. Lembrando que se não fosse o último lance do jogo, seria marcado tiro livre indireto contra este jogador que ocasionou o movimento indevido da bolinha.
Será praticamente impossível termos um dia todas as variedades de lances de jogo previstas e descritas em um texto de regras, qualquer que seja a modalidade esportiva. Existem momentos em que a lógica consensual precisa ser aplicada. Quando esse consenso torna-se inviável, reúne-se, discute-se e escreve-se aquilo que contempla melhor o entendimento da maior parte possível dos envolvidos.
Não existe dono da verdade, em qualquer que seja o aspecto da vida, ainda mais em uma prática esportiva com tantas particularidades e formas diferentes de pensamento de seus adeptos. O Dr. Regras, como costumo enfatizar, não é uma pessoa, é um fórum de debates, é um instrumento de melhoramento, daqui surgem questionamentos, ideias, proposições, principalmente quando a regra não é tão clara.