Painel do Mundo
Por Paulo Roberto Souza (28/06/2021)
“Só sei que sou louco por ela
E pra mim ela é linda demais
E além do mais
Ela é carioca
Ela é carioca”
Ela é carioca, ela é carioca...
Os versos do Maestro Antônio Carlos Brasileiro Jobim parecem ter sido feitos sob medida para os técnicos que praticam a modalidade 3 toques, sim, os botonistas são chamados assim, o que é uma tradição, e faz parte de uma cultura bem peculiar da Modalidade, que surgiu de um amalgama das regras praticadas no Rio de Janeiro.
No longínquo ano de 1978, mais especificamente no dia 21 de julho, não fazia nem um mês que chegava ao fim a Copa do Mundo da Argentina, talvez uma das edições mais controversas da competição, e ainda se repercutia no Brasil tudo que havia ocorrido durante o Mundial, inclusive a célebre frase do técnico Cláudio Coutinho: “ Fomos os campeões morais dessa copa”. Segundo histórico fornecido por José Ricardo Caldas*: “(...) na noite desse dia, os amigos Jayme Leal Cruz e João Paulo Mury, e Jorge Sadyl Savaget, em uma daquelas tradicionais resenhas que acontecem entre os botonistas durante os torneios, conversavam sobre o futuro do futebol de mesa e como seria interessante criar meios de organizar todos os praticantes do Rio de Janeiro numa só entidade”. Esta conversa plantou a semente para a criação de uma regra que agregasse os botonistas do Rio de Janeiro, e que na época tinham suas próprias regras, alguns jogavam o “leva-leva”, outros a regras “3 toques por botão” e tinha quem jogasse também a regra do “Bloqueio”, por sinal essa última aguçou minha curiosidade, de que forma aconteceria o tal “Bloqueio”, mas isso é uma outra história. Além de originar a regra carioca, nomenclatura que se usou para denominar a modalidade 3 toques, a conversa teve como fruto o surgimento da Federação de Futebol de Mesa do Estado do Rio de Janeiro – FEFUMERJ, no dia 17 de outubro de 1978.
Mas para se chegar a um consenso sobre o formato da regra foi necessário a criação de uma comissão composta de um representante de cada clube fundador, que trabalharia com o propósito de elaborar uma regra que atendesse a todas as tendências ali reunidas. Fizeram parte desta comissão: João Ignácio Müller, Tued Malta, Roberto Neves da Rocha, Jorge Sadyl Savaget, José Ricardo Lage, Avelino Farias e João Paulo Mury. Podemos imaginar os inúmeros testes, conversas, algumas discussões mais acaloradas para que se chegasse aos entendimentos necessários.
No ano de 1979 em Brasília, tivemos a fundação da Federação local, e também o Torneio Rio- Brasília, que serviu para que os cariocas apresentassem aos botonistas do Distrito Federal a Regra 3 Toques, essa competição por sinal foi o uma espécie de prévia do que estava por vir, pois antecedeu o Campeonato Brasileiro que aconteceria no ano de 1980 no Rio de Janeiro.
No texto que traz o Histórico da Regra 3 Toques, Caldas nos fala que: “Em 31 de janeiro de 1980, durante o Congresso Técnico do I Campeonato Brasileiro Individual, realizado no Rio de Janeiro, representantes dos Estados do Amazonas, Distrito Federal, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo criaram a Confederação Brasileira de Futebol de Mesa, primeira entidade desportiva nacional a tratar dos interesses do futebol de mesa praticado com bola de feltro, tendo sido eleito para presidir a entidade, João Paulo Mury”. Na mesma oportunidade, os representantes trabalharam naquilo que seria o esboço das regras oficiais da Modalidade 3 toques, que era constituída por 17 capítulos, divididos em 138 artigos e dos estatutos especiais para o futebol de mesa. Segundo José Ricardo Caldas: “A definitiva padronização das regras aconteceu com a realização, em Brasília, de 5 a 8 de fevereiro de 1981, do I Campeonato Brasileiro Interclubes de Futebol de Mesa. No 2º Congresso Técnico, em 5 de fevereiro de 1981, as regras sofreram as primeiras alterações”.
Após mais de 40 anos a modalidade tem se mantido firme, e apesar de ter passado por um período em que atraiu poucos adeptos, nos últimos anos tem trazido de volta os antigos botonistas e até mesmo novos praticantes, fazendo com que atualmente a modalidade 3 Toques seja praticada nos seguintes polos: Amazonas, Distrito Federal, Goiás, Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, e está tendo um início bastante promissor no Rio Grande do Sul, na cidade Viamão.
Como disse, ela é carioca, pois lá nasceu, mas hoje a modalidade é querida nas 5 regiões do Brasil!
Não posso terminar essa primeira coluna coluna sem deixar aqui meu especial agradecimento ao caro amigo José Ricardo Caldas por me fornecer subsídios históricos imprescindíveis para a construção do texto. Um grande abraço a todos e até a próxima.
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*José Ricardo Caldas e Almeida é praticante da modalidade três toques, botafoguense, criador e responsável pelo Museu Virtual do Futebol de Mesa, que mantém viva a memória do Futebol de Mesa Brasileiro.
Paulo Roberto de Freitas Souza é pedagogo e botonista do estado do Amazonas - atualmente representando o Manaus FC - e um dos administradores do Fórum Mundo Botonista no Whatsapp. O manauara é praticante das modalidades 12 Toques, 3 Toques e Dadinho, tendo sido inclusive dirigente na Federação Amazonense de Futebol de Mesa. Atualmente, Paulo ocupa uma função estratégica como diretor de Comunicação da Confederação Brasileira da modalidade 3 toques.
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